Embates jurídicos e influência de líderes nacionais marcam disputa em Fortaleza em meio à pandemia

Atos de campanha foram limitados pelas restrições impostas pela Justiça Eleitoral para evitar aglomerações de eleitores diante dos riscos à saúde decorrentes da pandemia da Covid-19

Escrito por Letícia Lima ,
Legenda: Sarto Nogueira (PDT) e Capitão Wagner (Pros) fizeram, ontem (28), o último debate, na TV Verdes Mares
Foto: Kid Junior

Após dois meses de campanha eleitoral, os candidatos à Prefeitura de Fortaleza chegam ao momento decisivo da disputa no segundo turno. De um lado, Sarto Nogueira (PDT), indicado do atual prefeito Roberto Cláudio (PDT). Do outro lado, Capitão Wagner (Pros), opositor à gestão municipal. A corrida eleitoral deste ano é atípica, por causa do novo coronavírus, e chega ao fim marcada por embates jurídicos e pela influência de lideranças políticas nacionais, em meio a um cenário de polarização entre as forças ligadas à esquerda e à direita.

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Os candidatos ainda estão em tempo de fazer campanha. Eles têm até as 22h de hoje (28), de acordo com o calendário eleitoral, para promover atividades e tentar captar os votos dos eleitores, mas com restrições.

Pouco antes do primeiro turno - 15 de novembro - o Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE) recomendou a cassação de candidatos, partidos ou chapas que provocarem aglomerações em meio à pandemia.

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Além disso, o Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE-CE) proibiu a realização de atos de campanha presenciais em todo o Estado. Com essas medidas, os candidatos precisaram rever as estratégias para se aproximar do eleitor e a propaganda na TV, no rádio e nas redes sociais ganhou um peso ainda maior.

Propaganda

O horário eleitoral gratuito se encerrou, ontem (27). Sarto Nogueira e Capitão Wagner travaram confrontos nas propagandas tanto em inserções como em blocos. No início do primeiro turno, Sarto dedicou o tempo na televisão e no rádio para se apresentar ao público e defender o legado do prefeito Roberto Cláudio, ressaltando as ações implementadas pela gestão.

Já Capitão Wagner adotou, inicialmente, um estilo "paz e amor" e evitou atacar os adversários. Nas primeiras propagandas, mostrou a sua trajetória na política e focou em questões sociais, numa tentativa de suavizar a sua imagem, muito ligada à segurança.

Esse tom ameno, porém, não durou muito até os primeiros ataques de um adversário para o outro. Sarto atacou Capitão Wagner por ter liderado motins da Polícia Militar no Ceará, enquanto ele, por sua vez, atacou o pedetista por ser um candidato tradicional, associando a imagem dele à "velha política".

Os embates viraram batalhas judiciais, com pedidos para retirar propagandas do ar e obter direito de resposta. A associação a lideranças políticas nacionais também virou uma tática frequente.

O apoio do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) a Capitão Wagner foi usado por Sarto para atingir o adversário. Capitão, por sua vez, criticava a ausência dos irmãos Cid e Ciro Gomes na campanha do pedetista.

A cientista política Paula Vieira, da UFC, ressalta o peso que a internet e as redes sociais tiveram na campanha. "O horário eleitoral gratuito foi muito bem utilizado pelos candidatos. A rede social se estabeleceu como um local de disputa política, tanto que a gente teve busca por anúncios patrocinados".

Apoios

Com o resultado do primeiro turno, em que Sarto saiu na frente com 457.622 votos e Capitão Wagner logo atrás com 426.803 votos, a corrida rumo ao Paço Municipal ficou mais acirrada em busca do apoio de partidos e candidatos derrotados no primeiro turno.

A polarização entre os grupos governista e o de oposição ficou mais evidente.

Sarto atraiu o apoio de partidos como o PT, PCdoB, Psol e PV, ampliando o arco de aliança no segundo turno.

A entrada oficial do governador Camilo Santana (PT) na campanha de Sarto também foi um fiel da balança, uma vez que a gestão estadual, de acordo com as pesquisas Ibope, é bem avaliada.

Já Capitão Wagner não conseguiu agregar nenhuma sigla, além das que já tinha na sua coligação, e seguiu apostando no discurso de independência política. Por outro lado, ele reforçou a presença de lideranças que o apoiam, como o senador Eduardo Girão (Podemos).

Jogo nacional

Nessa reta final, a campanha de Sarto intensificou a classificação de Wagner como um candidato "bolsonarista", e a campanha de Wagner passou a criticar a união de siglas de bandeiras distintas com o candidato do PDT. O professor e pesquisador do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia (Lepem) da Universidade Federal do Ceará (UFC), Cleyton Monte, chamou atenção para a nacionalização da eleição local, que já é um ensaio para a eleição presidencial de 2022.

"O que aconteceu aqui é o que a centro-esquerda sempre quis desde 2018. O Sarto uniu todos os partidos contra o candidato bolsonarista. Essa unidade em Fortaleza pode ser o ensaio de uma tentativa de unir diferentes partidos para bater de frente com o Bolsonaro", analisa.

Diferenças

Para Cleyton Monte, o candidato Capitão Wagner chega ao fim deste segundo turno da eleição municipal com um fator que ele considera "corrosivo": a relação com Bolsonaro, que "impediu que ele tivesse mais aliados no segundo turno e colocou a imagem dele de um candidato conservador, ligado às pautas do Bolsonaro e acaba criando um teto. Ele não investiu na ideia de se desligar do bolsonarismo".

Por outro lado, o cientista político considera que a campanha de Capitão Wagner na TV e redes sociais foi positiva.

"Eu acredito que ele conseguiu suavizar um pouco o nome dele, conseguiu falar de outros temas, em termos de mensagem, no horário político e redes sociais. Foram profissionais", analisou.

Voto útil

O professor da UFC avalia que o candidato Sarto Nogueira deve apostar as fichas no voto útil e aponta o apoio da máquina pública como importante para torná-lo conhecido.

"O grande trunfo foi o apoio da máquina, mas que é bem avaliada. O grupo dos Ferreira Gomes conseguiu formar uma grande coligação para ele, que deu mais tempo de TV e número de candidatos na rua", observou.

A dificuldade para Sarto, segundo Cleyton Monte, pode ser o fato de ele ser um nome tradicional na política. "Ele tem mais de 30 anos na vida pública, e algumas pessoas rejeitam isso. E também por ele ter sido escolhido pelos Ferreira Gomes", avalia.

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