Em live com cearenses, Temer defende diálogo para enfrentar crises

O ex-presidente participou, ontem, de encontro virtual promovido por lideranças empresariais do Estado. Para ele, a recuperação econômica é possível, mas não deve ocorrer rápido. O cenário, diz, exige união institucional

Escrito por Flávio Rovere ,
Legenda: Temer comentou que, depois da segunda dose da vacina, deverá sair um pouco mais
Foto: Agência Brasil

Afastado, segundo ele próprio, "das lides das articulações políticas e partidárias", o ex-presidente Michel Temer (MDB) defendeu, ontem, em conversa com empresários cearenses, o "diálogo" e a "unidade" como caminhos para o Brasil sair das atuais crises sanitária, econômica e política.

Durante transmissão ao vivo promovida pelo Grupo de Lideranças Empresariais do Ceará (Lide Ceará), ele também tratou de outros temas, como as repercussões internacionais sobre o desmatamento na Amazônia e a recente crise entre o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, e o Ministério da Defesa.

O emedebista defendeu uma "aliança de todos", com prioridade na pandemia de Covid-19 no País. "O presidente (Jair Bolsonaro) haveria de chamar os governadores, os presidentes da Câmara, do Senado, e mesmo o presidente do Supremo, porque muitas questões vão parar no Judiciário. Chamar os partidos políticos, inclusive os da oposição, porque esse vírus não escolhe o partido A, B ou C, ele penetra em qualquer indivíduo, de qualquer partido", afirmou o ex-presidente.

A economia, no atual contexto, deve ficar em segundo plano, na visão do emedebista. "A vida vai e não volta", argumentou. Quanto à recuperação econômica, "rápida não será, mas ela é perfeitamente possível". Para Temer, é preciso criar um ambiente favorável, com investimentos estatais, incentivos aos investidores privados e respeito às instituições.

"Não se pode agredir o Supremo Tribunal Federal, e não se pode agredir o Congresso Nacional. E quando se os agride, está se agredindo a democracia", enfatizou. Ele usou a própria atuação do Palácio do Planalto para exemplificar a necessidade de união.

"Eu dialogava com empresários, portanto, dialogava com a sociedade, dialogava com sindicatos, com o Congresso Nacional, com o Supremo. Nós temos que ter boa relação com o Supremo, porque muita coisa você depende do Supremo. O Executivo edita projetos de lei que precisam ser aprovados pelo Legislativo, edita medidas provisórias que têm um prazo de validade, têm que ser convertidas em lei pelo Congresso. Então, é o diálogo", afirmou.

Michel Temer minimizou a recente polêmica entre o Ministério da Defesa e o ministro Gilmar Mendes, do STF, após a fala de Gilmar de que o Exército estaria se associando a um genocídio, com o Ministério da Saúde comandado há dois meses, interinamente, pelo general Eduardo Pazuello. "Eu não creio que ele tenha agredido o Exército ou agredido as Forças Armadas", disse Temer, sob o argumento de que a palavra "genocídio" foi uma forma de enfatizar a cobrança. "Lá no Ministério da Saúde, tem que ter médicos", corroborou.

Eleições

Durante a transmissão ao vivo, Temer demonstrou estar disperso e distante em relação às questões do MDB, que, embora ainda seja o partido com maior número de prefeitos no Brasil, tem encontrado dificuldades em formar chapas fortes para as disputas majoritárias no Ceará, a exemplo do que ocorre na Capital.

Ele avaliou, porém, que o partido está em boas mãos sob o comando do ex-senador Eunício Oliveira. "Eu tenho a impressão que ele continua aí fazendo sua atividade partidária e vai verificar como levar adiante essa questão de uma eventual candidatura em Fortaleza e nos municípios do Ceará", disse.

Para o ex-presidente, os embates políticos com epicentro em Brasília terão influência limitada no pleito municipal marcado para 15 de novembro. "Os eventos nacionais têm influência nas grandes capitais e até um pouco nos grandes municípios. Agora, na grande maioria dos municípios, a minha experiência pelo menos revela que as questões locais, os anseios locais é que definem a eleição".

Amazônia

No momento em que o Governo Federal sofre grandes pressões para controlar o desmatamento da Amazônia (que cresce há 14 meses consecutivos e alcançou recorde nos nove primeiros meses do Governo Bolsonaro), Michel Temer também pediu atenção a possíveis "interesses de natureza internacional" por trás das críticas à atual política ambiental.

"O noticiário, quando você lê, dá a impressão de que, lá na Floresta Amazônica, daqui a pouco vão restar três ou quatro árvores", disse ele, afirmando ainda que o agronegócio não tem interesse na área e que a maior parte da floresta está preservada. "É a maior reserva ambiental do mundo", concluiu.

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