Deputados do Ceará apostam em independência do novo comando das Forças Armadas

Bancada federal se divide entre reafirmar o funcionamento das instituições e apontar politização dos militares no Governo Bolsonaro

Escrito por Felipe Azevedo , felipe.azevedo@svm.com
Presidente posa ao lado dos novos comandantes das forças armadas
Legenda: Na quarta (31), o ministro da Defesa, Braga Netto, anunciou os novos comandantes das Forças Armadas
Foto: Reprodução

O novo comando das Forças Armadas no Brasil inaugura também mais uma fase do Governo Bolsonaro após entrar em rota de colisão com os comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica.

Um dia após a confirmação da troca, deputados federais cearenses avaliam o trio recém-chegado aos cargos como um reflexo de um apelo militar imposto pelo Governo Federal desde a posse de Jair Bolsonaro (sem partido), mas apostam também na independência entre os setores.

Enquanto nomes da oposição concentram críticas no Palácio do Planalto, parlamentares mais alinhados ao Palácio do Planalto preferem encarar a troca como um ato democrático legítimo, e sustentam que as Forças Armadas precisam estar separadas do jogo político.  

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Os novos comandantes são: 

  • Exército: general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira; 

  • Marinha: almirante de esquadra Almir Garnier Santos; 

  • Aeronáutica: tenente-brigadeiro do ar Carlos Baptista Junior. 

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O que pensam os deputados 

"Não conheço o perfil dos três. Por um lado, acho legítimo um governante trocar a equipe dele a qualquer momento quando não está satisfeito com ela”, diz o deputado Eduardo Bismarck (PDT). Ele avalia, porem, como “ofensiva” a fala do novo ministro da Defesa, Walter Souza Braga Netto, que, em nota após ser alçado ao posto, exaltou o Golpe Militar de 1964, que completa 57 anos nesta quinta-feira (1º).  

“Pelo que vi, são pessoas carimbadas e com experiência. A gente confia que as pessoas possam continuar um bom trabalho”, afirma o parlamentar do PDT.  

A troca de comando ocorrida em 24 horas, para Pedro Bezerra (PTB), “mostra que o presidente Bolsonaro não tem essa afinidade com o entendimento de que as Forças Armadas têm sobre a definição de ‘pátria’".  

“No meu entendimento, é algo muito semelhante com o que aconteceu no PSL, tanto que ele (Bolsonaro) saiu do partido, e tentou criar outro [...] Quer comandar com mão de ferro e reclama tanto, ainda quer se colocar como um político liberal e anticomunista”, argumenta o deputado.  

Há também a avaliação de que uma mudança como a que ocorreu - que de uma só vez restabelece os comandos das três Forças -, é sinal de que o regime democrático permanece funcionando sem maiores intecorrências no País. 

É o que defende Danilo Forte (PSDB). "O Brasil marcha para ser um exemplo de democracia para o mundo. Há de se encontrar no diálogo uma solução para o seu desenvolvimento". 

 "Que os nomes colocados tenham compromissos constitucionais e que as instituições cada vez mais demonstram um protagonismo do fortalecimento do regime. Quem esperava trevas e horrores, tem uma luz de esperança", projeta. 

Para o deputado André Figueiredo (PDT),  "a expectativa que temos é que as Forças Armadas conseguiram colocar comandantes que não vão se deixar levar pelas pressões indevidas de Bolsonaro".

Também do PDT, Idilvan Alencar pondera, por sua vez, que os movimentos recentes indicam que o presidente tenta usar politicamente Exército, Marinha e Aeronáutica. 

"Não resta dúvida. Cabe aos demais - parlamentares, Poder Judiciário, empresários, policiais, sociedade civil, cidadãos e às Forças Armadas - mostrar que o presidente e qualquer um estão limitados pela Constituição", aponta.

Já o deputado José Guimarães (PT) considera que "Bolsonaro foi derrotado na tentativa de usar as Forças Armadas para seu projeto político".

"Cada vez mais ele se isola, perde popularidade e (sai) muito enfraquecido. Esse quadro agravado pela pandemia pode levá-lo a tentativas de ameaças à ordem democrática e institucional do País", avalia.

Crise com os militares 

Os ex-comandantes Edson Pujol (Exército), Ilques Barbosa (Marinha) e Antônio Carlos Moretti Bermudez (Aeronáutica) deixaram os cargos na última terça-feira (30). 

A saída do general Fernando Azevedo e Silva do Ministério da Defesa expôs uma crise militar. 

Ainda na quarta-feira (31), o novo ministro da Defesa, Braga Netto, anunciou os novos comandantes das Forças Armadas:

A avaliação de parlamentares é de que a demissão do ex-ministro ocorreu porque o oficial resistiu em fazer demonstrações contundentes de apoio das Forças Armadas ao Governo Bolsonaro. “Preservei as Forças Armadas como instituições de Estado”, sinalizou o general em nota oficial ao comunicar a saída do Governo.

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