Cearenses no Congresso reagem à mudança no comando do MEC

Representantes da bancada cearense comentam a demissão de Abraham Weintraub, que colecionou, nos últimos meses, uma série de polêmicas que dificultaram as relações do Governo com o Judiciário

Escrito por Redação ,
Legenda: Abraham Weintraub deixa o MEC, onde recebia R$ 31 mil em Brasília, e vai assumir cargo no Banco Mundial em Washington, onde a remuneração é de US$ 21,5 mil mensais (cerca de R$ 115,9 mil)
Foto: AFP

Após um longo desgaste político com ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), o titular do Ministério da Educação (MEC), Abraham Weintraub, anunciou, ontem (18), a saída do cargo em vídeo divulgado nas redes sociais, em que aparece acompanhado do presidente Jair Bolsonaro. O nome cotado para substituir Weintraub interinamente é o do secretário nacional de Alfabetização, Carlos Nadalim. Assim como o então ministro, Nadalim também é seguidor do guru bolsonarista Olavo de Carvalho.

No Ceará, a saída de Weintraub foi comemorada entre parlamentares de oposição ao Governo Federal, enquanto políticos mais próximos do presidente desejaram sorte ao ex-titular do MEC. O governador Camilo Santana (PT) também comentou a demissão.

"Torço muito para que a Educação brasileira volte a ter a atenção, o respeito e o valor que merece. Que os graves retrocessos dos últimos meses sejam reparados de forma urgente. Nenhum País se desenvolve e supera desigualdades sem colocar a educação como prioridade absoluta", disse o chefe do Executivo Estadual.

Líder da oposição na Câmara, o deputado federal André Figueiredo (PDT) apontou despreparo e disse que a saída de Weintraub já era esperada "há algum tempo".

"Um ministro que desde o início entrou em rota de colisão por conta do seu despreparo. Ele não entende nada de Educação, ele vem do sistema financeiro. Desde o início, além de todos os desmantelo que ele quis implantar na Educação, ele foi o porta-voz de várias atitudes autoritárias no Governo. Então, não fará falta nenhuma", afirmou, acrescentando não esperar um substituto "muito diferente".

O deputado Capitão Wagner (Pros) reconheceu que o então ministro se envolveu em algumas polêmicas, mas preferiu desejar-lhe boa sorte e pensar no futuro.

"O próximo ministro tem que ter uma capacidade técnica e de diálogo gigantes. Eu acho que esse vai ser o diferencial para que ele tenha sucesso no trabalho que vai desempenhar no Ministério. Em relação ao ministro que está saindo, a gente deseja boa sorte, mas temos que tocar o barco para a frente", declarou.

Já o deputado Idilvan Alencar (PDT), que foi membro titular da comissão de Educação na Câmara, afirmou que a saída de Weintraub era um "alívio". Todavia, diz torcer para uma pessoa mais capacitada assumir o posto.

"Nós recebemos a saída do ministro com um certo alívio. Ele já vai tarde. Um cidadão que não agregou em nada a essa Pasta, que não discutiu as questões do Brasil de alfabetização, de escola em tempo integral, de ajudar universidades. Nós rogamos para que venha um ministro que tenha respeito pela Educação pública", defendeu.

O deputado federal Heitor Freire (PSL), que já foi mais próximo do presidente, fez elogios à atuação de Weintraub nos últimos 14 meses.

"O ministro Abraham Weintraub teve grandes momentos no Ministério da Educação, é um homem de inteira confiança do presidente Bolsonaro e agora segue para novos desafios. Eu o agradeço e parabenizo pela sua contribuição para o Brasil e torço para que o próximo ministro possa dar continuidade ao belíssimo trabalho de Weintraub", finalizou.

Pacificação

A queda de Weintraub é vista como uma demonstração de pacificação do Governo com o STF e com o Congresso, que vinham pressionando para a saída do ministro. O desgaste de Weintraub com os ministros do Supremo foi agravado no último domingo (12), quando o então titular do MEC participou de atos, em Brasília, de apoiadores do Governo que criticavam o STF.

Na ocasião, ele voltou a usar a palavra "vagabundo", em uma referência a afirmação dele na reunião ministerial de 22 de abril, em que disse: "Eu, por mim, colocava esses vagabundos todos na cadeia. Começando no STF".

As declarações provocaram uma reação do Supremo, que nos bastidores cobrava a demissão do ministro. Sua permanência ficou insustentável, e a saída passou a ser defendida pelo entorno de Bolsonaro, que sofria pressão dos filhos para mantê-lo no MEC.

Weintraub anunciou que deixa o Ministério para assumir a diretoria do Banco Mundial. Ele irá ocupar um cargo de livre indicação pelo Brasil, o de diretor-executivo do Grupo de Acionistas, em Washington, sede do banco.

"Vou começar a transição agora e nos próximos dias eu passo o bastão para o ministro que vai ficar no meu lugar. Nesse momento, eu não quero discutir os motivos da minha saída. O importante é dizer que eu recebi um convite para ser diretor de um banco, já fui diretor de um banco no passado, volto ao mesmo cargo, porém no Banco Mundial", destacou.

Na ocasião, ele agradeceu a Bolsonaro, o qual classificou como "melhor presidente da história do Brasil" e disse que continuará lutando por liberdade. Bolsonaro, por sua vez, afirmou que continuará cumprindo os compromissos de campanha e que jamais deixará de "lutar pela liberdade".

Inquéritos

Weintraub é alvo do inquérito das fake news, que tramita no Supremo, e também de uma investigação no tribunal por racismo, por ter publicado um comentário sobre a China. Na primeira investigação, ele teve negado na quarta um pedido de habeas corpus ao STF para ser excluído do caso.

Na semana passada, amargou uma derrota política após o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), devolver a medida provisória editada por Bolsonaro que dava poderes para ministro da Educação nomear reitores de universidades e institutos federais temporariamente durante a pandemia.

Poucas horas antes de deixar o cargo, Weintraub revogou uma portaria de 2016 e acabou com regras sobre cotas para negros, indígenas e pessoas com deficiência em cursos de pós-graduação de instituições federais de ensino. Parlamentares reagiram contra a medida e protocolaram projetos na Câmara e no Senado para tentar torná-la sem efeito. Segundo o IBGE, negros eram 28,9% dos pós-graduandos.

Câmara

Após a demissão de Abraham Weintraub, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse esperar um melhor diálogo com o Ministério da Educação. "Estava muito ruim". Ele ainda ironizou a possibilidade de Weintraub assumir um cargo no Banco Mundial.

"Não sabem que ele trabalhou no Banco Votorantim, que quebrou em 2009". A indicação para assumir uma representação brasileira no Banco Mundial, em Washington (EUA), foi feita ontem pelo Ministério da Economia, mas ainda depende de aprovação de outros países - o que deve ser apenas uma formalidade.

A remuneração no cargo do Banco Mundial é de US$ 21,5 mil mensais (cerca de R$ 115,9 mil). Como ministro ele recebia R$ 31 mil.

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