Candidatos de Fortaleza devem disputar voto religioso, dizem especialistas

Pesquisa Ibope mostra estratificação do eleitorado por religiões e aponta a preferência de evangélicos por Capitão Wagner (Pros). Católicos estão, em sua maioria, entre ele e Luizianne Lins (PT). Estudiosos analisam os números

Escrito por Alessandra Castro e Cadu Freitas ,
Legenda: Especialistas destacam que a crença religiosa apoiada por um candidato pode interferir nas suas chances na campanha
Foto: Kid Junior

A primeira pesquisa do Ibope sobre a sucessão eleitoral em Fortaleza apontou não só a preferência do eleitorado em geral. A estratificação foi realizada por gênero, por idade, por raça e até por religião.

Na pesquisa estimulada - que ocorre quando são apresentados os nomes dos candidatos -, a maioria dos evangélicos (39%) tem preferência pelo candidato Capitão Wagner (Pros). A maior parte dos católicos também preferiu o policial militar reformado, mas, pela margem de erro, empata com a candidata Luizianne Lins (PT). Os que professam outras crenças disseram que vão votar na petista (27%).

A religião, conforme analisam especialistas, é um fator importante também para entender como o fortalezense tende a escolher seus representantes em um contexto de fortalecimento da pauta conservadora no Brasil.

Uma pesquisa realizada no início deste ano pelo Instituto paulista Datafolha apontou que quase um terço dos brasileiros disse ser evangélico.

Os católicos, por sua vez, ainda são maioria na população brasileira, com uma representação de 50%; mas há de se ressaltar que, há 40 anos, o catolicismo era praticado por 83% dos cidadãos.

Influência

Conforme especialistas, a religião influencia por estar muito associada ao discurso da moralidade, sobretudo a cristã, que tenderia a favorecer candidatos com pautas ligadas ao conservadorismo. Por isso, segundo eles, o eleitor busca alguém com o qual se identifique, que defenda seus interesses e aja conforme suas crenças. No entanto, eles salientam que a religião sozinha não é determinante, mas faz parte do conjunto de representações que o eleitor almeja em um concorrente.

"(A relação entre) religião e política não é algo novo, mas passou a ser uma semântica predominante nas eleições desde 2010, e a sociedade vai se identificando, sobretudo porque o estrato social religioso está relacionado à moral. E, grosso modo, essa é a principal ideia para um religioso procurar outro para votar, principalmente evangélicos e católicos carismáticos, que são mais conservadores. Eles acreditam que o candidato religioso vai agir moralmente", cita o cientista político Emanuel Freitas, professor da Universidade Estadual do Ceará.

O coordenador do Laboratório de Antropologia e Imagem da Universidade Federal do Ceará (UFC), George Paulino, acrescenta que o aumento do conservadorismo no âmbito nacional traz reflexos na disputa em Fortaleza.

"A religião ordena o mundo do crente - que é aquele que crê -, a visão de mundo dele e o que ele gostaria que fosse organizado por ela. E o Capitão Wagner tem essa abordagem mais conservadora, está ligada à figura do (Jair) Bolsonaro, embora ele não se apresente como bolsonarista, isso tudo influencia, principalmente entre os evangélicos. Mas Fortaleza tem algumas peculiaridades, e a religião sozinha não é suficiente, depende de outros fatores", ressalta.

Campanha

Com a pesquisa Ibope mostrando os nichos religiosos onde cada um deles é "forte", Emanuel Freitas acredita que os candidatos irão explorar as crenças na campanha eleitoral a fim de angariar mais votos fidedignos.

"Dificilmente, a eleição passa sem a temática da religião. Daqui a pouco, essa abordagem de religiosos chegará ao horário eleitoral", destaca.

Já George Paulino discorda. Para ele, os postulantes na Capital devem continuar agindo de forma neutra sobre a temática, a fim de tentar crescer entre todos os credos. "Acho que eles não devem explorar as religiões nas campanhas, se apresentando como um candidato de tal religião. Eles devem ficar meio neutros, para continuar capitaneando (eleitores)", reforça.

Ambos consideram, no entanto, que o voto religioso estará em disputa, e alguns candidatos ainda têm chances de crescer em determinados nichos ideológicos. "Tanto entre os católicos como entre os evangélicos, há um percentual para o Sarto (PDT) crescer. Ele é religioso, evangélico e ainda não começou a explorar isso. Ele deve disputar muito esse grupo com o Wagner. E os apoiadores do Wagner não podem dizer que ele não é religioso", explica Freitas.

Já Luizianne, que está em 2º lugar na opção de voto de evangélicos e católicos e em 1º quando se trata de outras crenças, deveria, segundo o analista, explorar mais o catolicismo e outras religiões. "No Governo Federal do PT, houve um fortalecimento do discurso pela diversidade religiosa, pluralidade e isso tudo recai sobre ela", pontua George.

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