Após cobrança do MPF, Camilo nega lentidão na vacinação contra a Covid-19 no Ceará

O ritmo da vacinação contra a Covid-19 no Brasil é motivo de divergências entre governadores e o Governo Federal

Escrito por Alessandra Castro , alessandra.castro@svm.com.br
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Legenda: O governador atribuiu as divergências sobre a quantidade de vacinas aplicadas à desatualização da plataforma do Governo Federal
Foto: Kid Júnior

Após envio de ofício do Ministério Público Federal (MPF) cobrando explicações sobre o ritmo da vacinação contra a Covid-19 no Ceará, o governador Camilo Santana (PT) rebateu, neste sábado (17), questionamentos sobre a aplicação dos imunizantes no Estado. O documento foi enviado para todos os chefes dos executivos estaduais do País na quinta-feira (15), com o aval do procurador-geral da República (PGR), Augusto Aras - que vem sofrendo críticas por falta de independência e alinhamento ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido). 

"Eu estou colocando isso porque há muitas fake news, há muita mentira. 'Ah, o Ceará não está vacinando'. Isso é mentira. Se tem um estado que tem uma das melhores logísticas de entrega das vacinas, de articulação, de informação, de transparência, é o Ceará".
Camilo Santana
Governador do Ceará

Durante a live, Camilo ressaltou a importância da "transparência", lembrando que o Ceará é "campeão, nota 10 em transparência com os dados da pandemia da Covid-19". "Agora, se os dados do Ministério da Saúde não são atualizados pelos municípios ou estão desatualizados, aí é outra questão. Mas o importante é que está aqui a transparência", criticou, sem citar diretamente a PGR. 

Na ocasião, o governador salientou ainda a quantidade de vacinas aplicadas: mais de 1,5 milhão de doses, sendo 1,1 milhão referente à primeira dose e 397 mil, à segunda. Além disso, ele afirmou que o Estado recebeu 1,8 milhão de doses do Governo Federal, das marcas CoronaVac e Astrazeneca, e que não aplicou a totalidade dos imunizantes porque, no caso da CoronaVac, é necessário reservar a segunda dose para aplicar em até 28 dias. 

O chefe do Executivo também reforçou que um novo lote com os imunobiológicos contra a Covid-19 chegou nessa semana e já foi distribuído aos municípios. 

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"Como não há um planejamento contínuo, da certeza do recebimento da vacina e a quantidade, há uma recomendação do Ministério (da Saúde) para que a segunda dose da CoronaVac seja guardada, porque a segunda dose tem que ser aplicada em até 28 dias. Então, se nós usarmos e daqui a 28 dias nós não recebermos a vacina, aquela primeira dose não vai servir para a população. Então, é uma segurança que o Ministério coloca para os estados e municípios terem que guardar a segunda dose, quando é da CoronaVac. Por que não se faz isso com a Astrazeneca? A Astrazeneca pode ser aplica em até 90 dias após a primeira dose", explicou. 

O governador também ressaltou, mais uma vez, a batalha jurídica no Supremo Tribunal Federal (STF) entre o Estado e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para a importação de doses da vacina russa Sputinik. O Ceará comprou 5,8 milhões de doses do imunizante, mas não pôde importá-las porque a Anvisa ainda não liberou o uso emergencial da Sputinik. 

"O Ceará fez uma aquisição de vacina pelo estado: mais de 5,8 milhões de doses da Sputinik. A Sputinik é uma vacina aplicada em mais de 60 países, aprovada por agências internacionais. Nós já deveríamos ter recebido o primeiro lote da Sputinik esse mês de abril, mas até agora a Anvisa não autorizou a importação". 
Camilo Santana
Governador do Ceará

O Estado do Ceará entrou com uma ação no STF e aguarda uma decisão para que possa efetivar a importação do imunizante. "Nossa única intensão é acelerar", frisou Camilo Santana.

A lentidão na vacinação no Brasil tem causado uma nova 'tensão' entre governadores e o presidente Bolsonaro. De um lado, o presidente diz que a demora é culpa dos gestores, que não estão aplicando todas as doses enviadas. De outro, os gestores estaduais e municipais reclamam da insuficiência e da demora para a compra da vacina, que está sendo enviada a passos lentos às cidades brasileiras em meio a uma nova onda de infecções mais letais. 

Divergências nas informações 

O ofício do MPF pede esclarecimentos a todos os governadores do País pela 'discrepância' entre as doses enviadas pelo Governo Federal e as aplicadas pelos estados, a partir dos dados disponíveis na plataforma LocalizaSUS, do Ministério da Saúde. No documento, consta que 48.088.916 doses do CoronaVac e da Astrazeneca foram enviadas aos 27 entes federados, tendo sido aplicada somente 32.160.509. As informações se baseiam na plataforma do Ministério. 

Verificado neste sábado (17) pela reportagem às 15h30, o LocalizaSUS informa que 53.493.436 doses das vacinas CoronaVac e Astrazeneca foram distribuídas paras todos os estados brasileiros até hoje. Quando analisamos os dados do Ceará, o registro é de que 2.110.250 doses de imunizantes foram recebidas e apenas 1.016.557 aplicadas. 

Os dados, no entanto, são divergentes dos informados pela Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa). Na última atualização do dia 15 deste mês, na plataforma Vacinômetro, consta a aplicação de 1.536.755, sendo 1.139.379 referentes a primeira dose e 397.376 à segunda - valor maior do que o informado pelo LocalizaSUS, do Governo Federal. 

Todavia, o LocalizaSUS informa que "os dados exibidos no Painel Nacional poderão apresentar diferenças em relação aos divulgados pelas Unidades Federadas e Municípios, tendo em vista que nem todos os registros de doses aplicadas chegarão em tempo real". As informações são repassadas pelas secretárias de saúde em até 48 horas. 

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