Preso por corrupção, Pezão chegou ao poder na era do PT; leia perfil

Político ganhou apelido de Pezão por calçar número 47

Escrito por Redação ,

Preso nesta quinta-feira (29), acusado de ter recebido propina como parte de um esquema de corrupção investigado pela Operação Lava-Jato, o governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão, de 63 anos, teve uma trajetória política favorecida pela aliança do MDB, seu partido, com os governos do PT.

Pezão foi preso na manhã desta quinta no âmbito da Operação Boca de Lobo, braço da Lava-Jato na capital fluminense, que atribui ao emedebista mensalão de R$ 150 mil e propinas de R$ 39 milhões em espécie, entre 2007 e 2014 - período em que exerceu o cargo de vice-governador na gestão de Sérgio Cabral, preso pela Lava-Jato desde novembro de 2016.

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Pezão foi eleito governador em 2014 apresentando um perfil mais discreto que o de seu antecessor. Luiz Fernando Souza é conhecido como "Pezão" por causa do tamanho 47 de seu sapato. Em 2016, enfrentou um câncer que o tirou de seu cargo por alguns meses, e passou parte de sua recuperação em sua cidade natal Piraí, a 100 km do Rio. Sua casa em Piraí também foi revistada pela polícia nesta quinta.

O governador herdou de Cabral uma severa crise financeira que ainda não foi superada pelo estado. O Rio enfrenta também graves problemas de violência, o que levou o presidente Michel Temer (MDB) a emitir um decreto de intervenção federal.
 
O governador foi detido de manhã cedo no Palácio das Laranjeiras e levado à sede da Polícia Federal (PF). Ele não foi algemado e teve escolta de agentes policiais. 

De acordo com a Procuradoria, Pezão teria recebido os subornos entre 2007 e 2014, quando era vice-governador de Sérgio Cabral, que cumpre prisão por corrupção. Os pagamentos teriam sido feitos até 2015, quando já era governador.

A ordem de prisão foi solicitada pela procuradora-geral da República, Raquel Dodge, e se baseia em perícias contáveis e na delação premiada de Carlos Miranda, operador financeiro de Cabral.

Pezão teria recebido de empresas e fornecedores contratados pelo governo do Rio de Janeiro uma mesada de 150 mil reais, além de um bônus de um milhão de reais, segundo o delator. A Procuradoria informou que a organização criminosa integrada pelo governador desviou dinheiro público, com remessas de grandes quantias ao exterior. 

A prisão acontece a um mês do término de seu mandato. Em coletiva de imprensa após a detenção, Dodge ressaltou que a medida foi necessária, já que os crimes, como os de corrupção e lavagem de dinheiro, continuaram ocorrendo.

Todos os governadores eleitos do Rio de Janeiro entre 1998 e 2014 foram detidos, mas Pezão é o primeiro caso de detenção durante o exercício do cargo. Anthony Garotinho (1999-2002) e Rosinha Matheus (2003-2007) passaram pela prisão por crimes eleitorais, que eles negam. Cabral (2007-2014) está preso desde 2016, acusado de receber subornos em troca de concessões de obras públicas. Suas condenações somam mais de 180 anos de prisão.

Dodge ressaltou que o esquema criminoso que atua no Rio de Janeiro chegou a diversas esferas do aparato público estatal e que, apesar das condenações, essa organização não parou.

De acordo com a Procuradoria, apesar de ter sido homem de confiança de Sérgio Cabral e assumido um papel fundamental na organização criminosa, inclusive sucedendo-o em sua liderança, Pezão "operou um esquema próprio, com seus próprios operadores financeiros".

O governador eleito em outubro, Wilson Witzel, afirmou em comunicado que "a transição não será afetada". Depois, em coletiva de imprensa, disse que não acha necessário antecipar a entrada no governo e que auditará todos os contratos "sem paralisar o governo".