Covid-19: corrida por imunização acelera após aprovação de vacina

No dia histórico em que o 1º imunizante contra o novo coronavírus é aprovado no Ocidente, Ministério da Saúde revela plano de vacinar mais de 51% dos brasileiros em 2021, enquanto a Câmara aprova verba para compra de doses

Escrito por Luana Barros ,
Legenda: No Brasil, Ministério da Saúde diz que os grupos prioritários de vacinação irão variar de acordo com a disponibilidade de doses
Foto: AFP

O planejamento para o início da vacinação contra a Covid-19 acelerou após o Reino Unido aprovar nesta quarta-feira (2) o uso emergencial da vacina desenvolvida pelas farmacêuticas Pfizer e BioNTech, a primeira imunização aprovada após passar por todas as fases de teste. Além de outras desenvolvedoras intensificarem pedidos de autorização emergencial em vários países, governos concluem planos para imunização em massa da população, inclusive o Brasil. 

O Ministério da Saúde projeta dificuldades logísticas para adquirir doses, mas a previsão é que, no primeiro semestre de 2021, 142 milhões de doses estejam garantidas – 15 milhões já para janeiro. O plano preliminar de imunização do Governo calcula a aplicação da vacina em quatro fases e um contingente de 109,5 milhões de pessoas imunizadas em duas doses, o que equivale a 51,4% da população. A expectativa da Pasta é começar a imunização em março. Isso dependerá, porém, da aprovação de alguma vacina pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, afirmou que as doses que devem chegar ao Brasil fazem parte da parceria da Fiocruz com o laboratório britânico AstraZeneca e a Universidade de Oxford. O acordo para desenvolver a vacina prevê transferência de tecnologia, o que pode somar mais 160 milhões de unidades. 

Além disso, o Brasil irá adquirir outras 42 milhões de doses no consórcio “Covax Facility”, iniciativa da Organização Mundial da Saúde (OMS) para universalizar o acesso a imunizantes eficazes contra o novo coronavírus. Estas doses podem ser fornecidas por qualquer um dos fabricantes que integram o consórcio.

Já a Câmara dos Deputados aprovou ontem a Medida Provisória (MP) que abre crédito extraordinário de R$ 1,9 bilhão para viabilizar a compra, processamento e distribuição de 100 milhões das unidades da vacina desenvolvidas pela AstraZeneca e a Oxford. 

Havia uma pressão para que também se destinasse parte da verba para o desenvolvimento da vacina do laboratório chinês Sinovac e Instituto Butantan, o que não foi aprovado. Pazuello garantiu, porém, que a compra de outras vacinas não está descartada. O maior problema nesse caso é a viabilidade logística dessas unidades. “Ficou muito óbvio que são muito poucas as fabricantes que têm a quantidade e cronograma de entrega efetivo para nosso País. Quando a gente chega ao fim das negociações e vai para cronograma de entrega, fabricação, os números são pífios. Se reduz a uma, duas, três ideias”, disse.

Regras

Por sua vez, a Anvisa informou que deve passar a conceder autorizações temporárias e emergenciais para vacinas contra a Covid-19. 

Diferente do processo de registro normal, a Anvisa vai conceder autorizações específicas para aplicar as vacinas em determinado público.

Com a decisão, a imunização poderá ser aplicada apenas no Sistema Único de Saúde (SUS), sem venda privada. A agência disse ainda que a autorização pode ser suspensa em caso de evento adverso.

As quatro etapas da campanha de vacinação prevista pelo Ministério, por ora, devem atingir 109,5 milhões de pessoas. Ao menos em 2021, a vacinação não deve abranger toda a população do Brasil.

Corrida

Com a aprovação do Reino Unido para o uso emergencial da vacina desenvolvida pela Pfizer e BioNTech, a corrida para garantir a imunização em massa da população acelerou em diversos países. A vacina é a primeira a ser autorizada após passar por todas as fases de testes. China, Rússia e Emirados Árabes já haviam aprovado uso de imunizantes antes, mas os produtos ainda passavam por testes clínicos quando foram registrados.

O governo dos Estados Unidos, por exemplo, planeja concluir até o fim de fevereiro a vacinação de 100 milhões de pessoas apenas com as doses da Pfizer. A vacina está em processo de autorização.

Mirando a chegada da vacina da Pfizer, a Alemanha também prepara centros de vacinação pelo país. Ainda nesta quarta-feira (2), a Itália anunciou que começará sua campanha de vacinação no início de 2021. O presidente russo Vladimir Putin ordenou que a vacinação em massa comece também na próxima semana.

Articulações em busca da vacina na região Nordeste 

No Nordeste brasileiro, o Consórcio Nordeste tem tentado articular ações para garantir que a região seja abastecida com os imunizantes assim que sejam aprovados pelos órgãos de controle. Um dos coordenadores do Comitê Científico do Consórcio Nordeste, Sérgio Rezende, conta que há cerca de três semanas o presidente do Consórcio, Wellington Dias, governador do Piauí, junto aos coordenadores do Comitê Científico, se reuniu com o vice-diretor da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), Jarbas Barbosa. 

A ação era uma tentativa de mediar a garantia de que algumas vacinas a serem adquiridas pela OPAS, através da Organização Mundial da Saúde (OMS), e que devem ser doadas aos países incluídos em um programa de imunização da qual o Brasil faz parte, terão o Nordeste brasileiro como destino. Contudo, relata ele, a OMS, nesse caso, só pode fazer acordos com países e não com regiões, o que inviabiliza o pleito do Consórcio. 

“A OPAS é ligada à OMS e tem um programa que, depois de muito relutar, o Brasil acabou entrando, que vai fazer aquisição de vacinas assim que estiverem realmente liberadas, vai adquirir e distribuir para os países que estão fazendo parte desse programa, inicialmente, para as equipes de saúde e professores. A tentativa foi de ter uma articulação direta com a OPAS. Mas, na reunião, ficou claro que a OPAS pode interagir, mas não pode mandar para o Consórcio Nordeste”.

Segundo Sérgio Rezende, as ações relacionadas à vacina ainda estão “em uma fase muito embrionária”. Ele explica ainda que o Consórcio Nordeste tem tentado articular a compra de lotes de vacinas assim que estiverem disponíveis.

No entanto, como os imunizantes estão sendo produzidos lentamente, a prioridade de negociação, no momento, é de países e grandes organizações, como a OMS. Rezende reforça que a União deve conduzir a aquisição no Brasil, mas lembra que os estados podem tentar comprar para complementar o processo de imunização nas regiões. No Nordeste, diz ele, “há um certo acordo entre os estados de fazer essa compra através do Consórcio”.

O secretário da Saúde do Estado, Dr. Cabeto, disse, na última terça-feira (1º), que o Governo do Ceará dialoga com o Governo de São Paulo, que receberá doses da vacina CoronaVac, produzida pela chinesa Sinovac. Segundo ele, o plano é vacinar, primeiro, grupos de risco. A gestão estadual também já abriu licitação para a aquisição de 147 câmaras refrigeradas para armazenamento de vacinas nos municípios cearenses.

O prefeito eleito de Fortaleza, Sarto Nogueira (PDT), ressaltou, na última segunda-feira (30), que pretende garantir a imunização de grupos de risco em casa. “Assim que houver a liberação pelos órgãos sanitários nacionais, vamos comprar a vacina”.