Com chuvas perto do triplo da média, MG tem 53 mortos em cinco dias

A maioria das mortes registradas na última semana foram em casos de soterramento, desabamento e desmoronamento de terra: 43. Com o solo encharcado, os deslizamentos de terra derrubaram casas em várias cidades

Escrito por Folhapress ,
Legenda: Só em 2020, entre o dia 1º e a manhã de terça-feira (28), o Inmet registrou acumulado de 814,9 mm
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O número de mortes em decorrência das chuvas chegou a 53 nesta terça-feira (28) em Minas Gerais. Os casos foram registrados entre o dia 24 de janeiro até o fim da noite de terça - há ainda um desaparecido.

Desde outubro, 64 pessoas morreram no estado em episódios relacionados às chuvas, em registro recorde dos últimos cinco anos. Até então, o maior número de mortes havia sido 18, nas temporadas 2016/2017 e 2018/2019. A maioria das mortes registradas na última semana foram em casos de soterramento, desabamento e desmoronamento de terra: 43.

Com o solo encharcado, os deslizamentos de terra derrubaram casas em várias cidades.

Foram registradas oito mortes de pessoas arrastadas pelas águas e dois por afogamento. Um homem de 62 anos, desaparecido desde a noite do dia 24, foi encontrado na manhã desta terça, dentro do carro, em um córrego em Divinópolis.

Em Belo Horizonte, dois episódios de deslizamento de terra e soterramento mataram 12 pessoas dentro de casas. A capital lidera o número de mortos na lista que inclui 16 cidades.

Na quarta-feira antes das chuvas fortes, a prefeitura colocou em prática um plano emergencial com equipamentos, como caminhões, retroescavadeiras e hidrojatos, em onze pontos da cidade, e reservou 500 vagas em pousadas para famílias que tivessem de sair de casa.

Até esta terça, 185 famílias ainda estavam acolhidas pelo serviço. Segundo a prefeitura, o plano de atuação começou a ser elaborado no dia 19 de janeiro, quando uma chuva forte deixou estragos na cidade.

Legenda: A chuva alagou avenidas da cidade, invadiu casas e estabelecimentos comerciais, arrastou carros e assustou clientes de um restaurante que foi inundado
Foto: AFP

A Defesa Civil de BH renovou o alerta para riscos geológicos, como desmoronamentos de terra, até a próxima sexta-feira (31). Na noite de terça, voltou a chover na cidade.

A chuva alagou avenidas da cidade, invadiu casas e estabelecimentos comerciais, arrastou carros e assustou clientes de um restaurante que foi inundado. Parte do teto de um shopping localizado no bairro Belvedere desabou durante a tempestade.

Em Nova Lima, na região metropolitana de Belo Horizonte, o desabamento de uma casa provocou a morte de uma pessoa, de acordo com a Defesa Civil. A rodovia MG-030, que liga Nova Lima a Belo Horizonte, foi interditada devido a desmoronamentos de terra.

Uma das cidades mais atingidas na região metropolitana, com mais de 5.000 pessoas fora de casa - cerca de 700 delas desabrigadas, dormindo em escolas ou com aluguel da prefeitura - Contagem teve dois mortos.

A Defesa Civil do município também colocou em ação o protocolo de emergência do plano de contingência surpreendida pelo volume de chuvas do dia 19, diz o coordenador Samuel Lara.

A previsão era de chuva em torno de 60 e 70 mm, o que o sistema de drenagem conseguiria suportar, mas a marca chegou a 102 mm naquele dia.

O protocolo incluiu evacuação de pessoas vivendo em áreas vulneráveis - primeiro em locais com risco de inundação e alagamento, depois com risco de deslizamentos de terra.

"Percebemos que o volume de chuvas seria alto e que o risco geológico iria aumentar muito. Nossa área mais vulnerável hoje, o Morro dos Cabritos, conseguimos evacuar e montamos um abrigo próximo. As pessoas foram notificadas a deixar suas casas e ir para lá", explica Lara.

Nos próximos dias, segundo o Inmet em Belo Horizonte, ainda pode haver ocorrência de pancadas eventuais de chuva, típicas de verão, na região da capital, mas a instabilidade deve seguir para o oeste do estado.

"O que a gente pede é que as pessoas fiquem atentas às previsões das instituições oficiais e às orientações da Defesa Civil, que é quem coordena como proceder para minimizar transtornos", afirma Anete Fernandes, metereologista do instituto.

As chuvas fora da média, diz ela, foram causadas pela zona de convergência de um canal de umidade vindo desde a região amazônica até o Atlântico Sul na região sudeste, com sistema de baixa pressão no oceano, que a Marinha chamou de depressão subtropical.

A média histórica das chuvas de janeiro na região, que considera registros dos últimos 30 anos, é de 329,1 mm. Só em 2020, entre o dia 1º e a manhã desta terça-feira, o Inmet registrou acumulado de 814,9 mm.

Entre as manhãs de quinta-feira (23) e sábado (25), em 48 horas, choveu 312,5 mm - 171,8 mm só entre quinta e sexta, o maior acumulado desde que a medição começou a ser feita há 110 anos.

O governo de Romeu Zema (Novo) anunciou a liberação de R$ 3,4 milhões para atender municípios atingidos pela chuva e com situação de emergência decretada -até esta terça, o decreto contava com 101 cidades.

O valor é uma antecipação do piso mineiro dos meses de janeiro, fevereiro e março. Os gastos até o momento estão dentro do orçamento reservado à coordenadoria estadual de Defesa Civil e ao Corpo de Bombeiros para ações emergenciais, que passa de R$ 46 milhões em 2020.

Mais de 30.000 pessoas estão fora de casa devido às chuvas, segundo a Defesa Civil de MG -28.893 desalojadas, que não dependem de abrigo do Estado, e outras 4.397 desabrigadas, levadas a locais providenciados pelo poder público.