Violência revigorada

A violência está revigorada no Rio de Janeiro, onde inocentes, principalmente crianças, são mortas por “balas perdidas”, disparadas por armas de fogo de grosso calibre usadas e manuseadas por policiais despreparados. Isso sem contar as muitas outras vítimas nas pessoas de pacatos trabalhadores, pais e mães de família, confundidos com bandidos ao talante dos “agentes da lei”, agora mais incentivados à prática de ações belicosas pelo próprio governador daquele Estado, o ex-juiz Wilson Witzel.

Este cidadão defende o embate direto das forças de segurança com os bandidos infiltrados nas favelas, sem zelar, porém, pela incolumidade dos milhares de habitantes, vítimas da violência policial e da violência do “crime organizado”. E agora, quando os direitos humanos estão sendo questionados e relativizados para “humanos direitos”, inclusive o de matar antes para perguntar depois, assiste-se ao renascer de um triste passado, representado pelos “esquadrões da morte”, trocados hoje pelo similar nome de “milicianos”. 

A questão social, promotora da falta da “lei e da ordem”, para usar expressão tão ao gosto do sistema – reserva apenas as sobras do banquete dos mais ricos das praias de Copacabana. D. Adriano Hipólito, bispo de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, nos “tempos de chumbo”, quando a Polícia matava inocentes pais de família a caminho do trabalho e também bandidos, e ele próprio chegou a ser sequestrado, torturado e ameaçado, denunciou ao ministro da Justiça de então, Armando Falcão, as atrocidades cometidas, e cobrava com fervor profético a presença do Estado em serviços essenciais àquela população. Em uma das vezes, o delegado da DOPS disse a D. Hipólito guardar em sua gaveta o Evangelho, e ouviu do corajoso bispo: o senhor tem o Evangelho na gaveta, mas não o tem no coração. Esta lição bem poderia ser aprendida pelos algozes de agora.


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