Saúde visual

É comum às utopias, que sonham dias melhores para o gênero humano, esboçar cenários nos quais o saber é partilhado e onde todos se beneficiam de suas conquistas. Utopicamente, pensa-se, claro, em todos os territórios sobre os quais avança a razão, mas nenhum traduz melhor a maravilha deste ideal quanto as ciências que buscam garantir a saúde das pessoas.

Infelizmente, existe um descompasso entre o que o conhecimento é capaz e aquilo que é efetivamente realizado. Não é grave apenas que esteja longe do ideal de perfeição, mas que haja uma distância considerável para se chegar onde já se é possível alcançar.

O desencontro é apontado, por exemplo, no primeiro relatório mundial sobre visão publicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Casos que têm tratamento simples, ou mesmo que podem ser corrigidos quando diagnosticados e tratados precocemente, terminam se complicando, diminuindo a qualidade de vida de quem, infelizmente, tem uma dessas condições.

O resultado mostra que um grande contingente populacional se vê privado de vivenciar plenamente as atividades sociais, incluindo as laborais, em um mundo cada vez mais visual. Não se trata de limitação de recursos científicos, nem de alcance do conhecimento.

Com frequência, o que é necessário investir é modesto, quando comparado ao que certas enfermidades exigem. A limitação está mais relacionada à eficiência com que se maneja os recursos e a atenção que se dá ao problema.

Os números negativos a respeito da saúde ocular da população global, presentes no relatório da OMS, são todos superlativos: 2,2 bilhões de pessoas têm deficiência visual ou são cegas; 65 milhões daqueles que têm cegueira ou visão prejudicada poderiam ter tido seus problemas corrigidos com uma operação de catarata; e mais de 800 milhões de pessoas precisam de óculos, mas não têm acesso a eles.

A projeção do organismo internacional é de que mais de 1 bilhão de pessoas, em todo o mundo, vivam com alguma deficiência visual por falta de acesso aos cuidados necessários ao tratamento de condições como miopia, hipermetropia, glaucoma e catarata. Globalmente, o recurso necessário para transformar esse quadro é de US$ 14,3 por cada caso, em média.

Fatores ambientais (como a alta incidência solar no Ceará), o envelhecimento populacional, estilos de vida pouco saudáveis e acesso limitado à assistência oftalmológica estão entre os principais fatores que explicam número crescente de diagnósticos de deficiência visual. O prognóstico da OMS é uma maior integração dos cuidados com os olhos nos serviços públicos de saúde, reforçando-os no âmbito da atenção primária à saúde, objetivando catalisar os resultados com prevenção, detecção precoce, tratamento e reabilitação.

Não é pequeno o papel que cada pessoa tem para transformar esse quadro. O autocuidado, a atenção com os seus, a busca de avaliações especializadas e, em caso de algum diagnóstico positivo, a observância do correto tratamento são indispensáveis para uma vida mais proveitosa. Igualmente indispensável é a cobrança para que o poder público garanta as condições necessárias para se manter a saúde visual.


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