Paçoca com amor e resignação

Na bazófia lendária ou no registro histórico, talvez o somatório chegue a alcançar milênio, apelando-se ao benefício da dúvida ou ao achismo do mais ou menos, como tempo de invenção do alimento.

Na Amazônia, um nosso ancestral indígena, trazendo animal abatido, entra na oca e encontra a companheira torrando mandioca, antes macerada manualmente.
A caça é assada, depois esgarçada e juntada à farinha produzida pela índia. Pronto! Estava inventada a paçoca! Alguém duvidando, atreva-se a narrar o causo de forma diferente e conte comigo no apoio. Mas, até lá, vamos somente prosear um pouco sobre o assunto.

Do tupi pa’soka, significando esmagar ou misturar com as mãos, a comida evoluiu na feitura. A carne seca, desfiada por manuseio, passou a ser socada e adicionada ao farináceo de macaxeira em pilão.

Com portugueses e africanos, na colonização, veio à adição de temperos. Em algumas regiões, houve misturas de amêndoas e, ainda, açúcar.

Refeição grandemente aceita, além de seu poder nutricional, conserva-se inalterada por um mês. Assim, colonizadores, bandeirantes, tropeiros, garimpeiros, boiadeiros, cangaceiros, policiais de volantes, romeiros, mascates, viajantes, inclusive usuários de “paus de arara”, a transportavam em alforjes, embornais ou latas.

Agora, um momento deveras curioso entre o amor, a resignação, o inusitado e o hilário relatado pelo advogado José Kleber Callou Filho, neto do ex-prefeito do Crato Pedro Felício Cavalcante (1905 – 1991).

A senhora Ailza, esposa de Pedro, durante 40 anos, todas as segundas-feiras, mandava a empregada Rosa Miranda preparar, em especial pilão de madeira, e servia paçoca de carne de sol no almoço do esposo.

Certo dia, a carne não chegou de Caicó e Ailza, preocupada, desculpou-se repetidamente ao marido, ante a falta do prato. Ouvindo respostar: “E quem disse que eu gosto de paçoca?”.