Mercado de trabalho

A pandemia gerou alta taxa de desempregados no país, mas aos poucos se verifica a retomada do mercado de trabalho. Entre os trimestres encerrados em junho e julho, houve redução de 14,1% para 13,7% na taxa de desocupação, segundo o IBGE. Em julho, 89 milhões de pessoas estavam ocupadas no país, 3,1 milhões a mais do que em junho. Ocorre que a retomada engendra dinâmicas bastantes contraditórias e mudanças estruturais nas relações de trabalho que vão além da pandemia e já se afirmavam no final da década passada, como a informalidade e a subocupação.

Há anos o desemprego resiste num patamar elevado, gerando estimativas da Taxa Natural de Desemprego na casa de 10%. Nesse quadro, a subocupação atingiu em julho 7,7 milhões de trabalhadores, grupo que cresceu 7,2% entre junho e julho. Se somarmos os subocupados com as 14,1 milhões de pessoas sem trabalho e as 9,9 milhões referentes à força potencial de trabalho, há um contingente de 31,7 milhões de pessoas subutilizadas no mercado de trabalho ampliado – 28% do total.

Há vagas, mas principalmente em trabalhos sem registro ou para quem se arrisca por conta própria, sem CNPJ. Em um ano, o total da população ocupada cresceu em 7 milhões, sendo 80% atuando na informalidade. Como consequência, a própria perspectiva de crescimento da economia é afetada. Outro ponto de fragilidade para a manutenção da demanda agregada nos próximos trimestres é a Selic, que chegou a 7,75% e deve subir mais, o que fará com que o custo do crédito para as famílias encareça.

Esse aumento do custo da dívida chega em momento no qual o grau de alavancagem das famílias brasileiras está no maior patamar desde 2005. Por um lado, houve uma redução abrupta da massa salarial real; por outro, o nível de dívidas não diminuiu na mesma magnitude. Dados do BC mostram que o comprometimento da renda das famílias brasileiras com dívidas do sistema financeiro nacional (SFN) está no patamar de 59% em relação à renda acumulada dos últimos 12 meses.

Por isso, acreditamos que a recuperação do consumo privado pode ser lenta. Uma vez ultrapassadas as dificuldades trazidas pela Covid-19, ainda teremos um longo caminho a percorrer antes de superarmos o nível de renda do pré-pandemia.

Wilhelm Meiners e Guilherme Stipp são economistas

 

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião dos autores.