Editorial: Índices e História

Dois indicadores anunciados nesta semana por instituições distintas são razoáveis demonstrações de como as oscilações na economia nacional podem agir como elementos que se anulam mutuamente, sejam positivos ou negativos.

O primeiro é o Índice de Confiança da Indústria, apurado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), que recuou um ponto entre setembro e outubro últimos. Com a diminuição, o indicador caiu para 94,6 pontos, numa escala de zero a 200 pontos. Trata-se, segundo a instituição, do menor valor desde outubro de 2018 (94,2 pontos).

O levantamento, que visa à confiança dos empresários, revela que esse critério declinou em dez dos 19 segmentos industriais pesquisados em outubro. Outro ponto relevante, estimado na mesma pesquisa, também apresenta decréscimo. Só que no sentido oposto. É o Índice de Expectativas, que mede a confiança em relação ao futuro - essa referência diminuiu em outubro em comparação com setembro, perdendo 1,3 ponto e indo para 93,9 pontos. Foi o menor valor avaliado desde julho de 2017, quando, ao fim do primeiro ano do instável Governo de Michel Temer, alcançaram-se 93,1 pontos.

Já no Índice de Situação Atual, usado na medição da confiança no presente, houve recuo de 0,5 ponto, caindo para 95,4 pontos. Paralelamente, o Nível de Utilização da Capacidade Instalada das indústrias subiu 0,3 ponto percentual, recuperando os mesmos 75,8% que tinha em agosto deste ano.

Em patamar diferente está o percentual de famílias endividadas no País. Este ficou em 64,7% em outubro e a taxa é inferior aos 65,1% verificados em setembro. É, então, uma sinalização interessante para segmentos variados, sobretudo os do comércio - que já se aquecem com a aproximação da chamada "friday", das férias escolares e da temporada de vendas para o fim de ano.

A queda do indicador é a primeira neste ano. Nos estudos, anteriores, seguiram-se nove altas consecutivas nas comparações mensais. Esses dados são colhidos e processados pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).

Comparando a informação com a que foi apurada em relação ao mês de outubro do ano anterior, há um ponto que chama atenção: o endividamento subiu vários degraus - e de maneira expressiva, já que na apuração passada o índice era de 60,7%.

É dispensável observar que tanto a FGV quanto a CNC são instituições que se postam historicamente distantes das escaramuças políticas ou ideológicas que se costuma acompanhar no noticiário. A primeira já soma 75 anos de serviços prestados no monitoramento da economia e na formação profissional. A outra tem quase o mesmo tempo de experiência: completou 74 anos em setembro passado e representa 27 federações estaduais e sete nacionais, além de mais de mil sindicatos em todo o País - pode ser credenciada, então, como uma agregadora nacional. As trajetórias de ambas são, certamente, comprovações de credibilidade e respeito.

Tem-se, portanto, não apenas um mero apanhado de números, mas uma compilação de recortes conjunturais que a História vai se encarregar de organizar. E a História, diferentemente de versões, é imutável.