Editorial: Acesso universal à água

Consta entre os Objetivos Globais para o Desenvolvimento Sustentável, estabelecidos pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em 2015, a garantia de "disponibilidade e manejo sustentável da água e saneamento para todos". As 17 metas que constam no documento integram a chamada Agenda 2030 da ONU, com planos compartilhados por nações de todo o mundo, em vistas de promover uma série de mudanças globais até o fim desta década.

As implicações da pandemia da Covid-19 instam os governos a levarem em conta a urgência de cumprir essa meta, dentro do prazo estabelecido. Para o desafio aceito em conjunto pelas nações do mundo, o tempo que se tem é curto. Especialistas estimam que uma década não será suficiente para se alcançar a meta. A estimativa dos organismos internacionais é que 2 bilhões de pessoas vivam em condições insalubres, sem acesso regular à água tratada e serviços de esgoto. Obras de infraestrutura para atender à tal demanda exigem investimentos altos por parte dos governos e não podem ser realizadas do dia para noite, sendo impensáveis de serem encaminhadas e concluídas em tempo de surtirem efeito impactante na atual crise de saúde pública.

O Brasil é um dos 51 países para os quais são previstas ações no Plano de Resposta Humanitária Global da Covid-19, editado pelas Nações Unidas. Contempla países e áreas pobres da América do Sul, África, Oriente Médio e Ásia, com investimento de 2 bilhões de dólares. A proposta objetiva proteger milhões de pessoas e reduzir a disseminação do vírus no mundo. Entre as ações previstas está a de instalar estações para lavagem das mãos, em acampamentos e assentamentos.

A medida é extrema, mas responde à necessidade de lugares de enorme carência, com ausência dos serviços básicos necessários à saúde e à dignidade humana. Também grave é a situação das favelas. O Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos (ONU-Habitat) avalia que a proliferação do novo coronavírus pode ser consideravelmente maior entre as populações mais pobres, que vivem em áreas urbanas precárias, caracterizadas pela carência de serviços sanitários e superlotação habitacional. São condições estruturais que dificultam a adoção de medidas recomendadas pelos especialistas de saúde, como a higienização das mãos e o isolamento social.

Sabe-se que uma das principais precauções que todos devem tomar, no sentido de reduzir a propagação do novocoronavírus, é a de lavar bem às mãos com água e sabão. O gesto é simples e deveria ser universalmente acessível. Os benefícios, como se sabe, vão além da prevenção neste momento de emergência global. Trata-se de medida sanitária, importante para se evitar doenças infecciosas, que se espalham por meio do contato das pessoas com superfícies contaminadas por vírus e bactérias.

Sanar esse problema deve estar entre os objetivos prioritários dos governos federal, estadual e municipal, visto que tais serviços dependem, em regra, da articulação nos três níveis. Seus benefícios se sentem no reforço da saúde da população e, a partir disso, na redução de fluxo de pessoas doentes nos serviços públicos de atendimento médico.


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