Seis meses de resiliência

Precisos seis meses transcorreram desde que foi registrado o primeiro caso de infecção pelo novo coronavírus no Ceará. O intervalo de tempo é breve, se pensado a partir da referência de uma vida humana. Se for considerado em relação à história, esse tempo parece ainda mais diminuto.

Contudo, foram seis meses que tiveram seu próprio cronômetro, com um relógio de horas incertas e um calendário capaz de correr ou retardar o seu avanço. O período que agora chega ao marco da metade de um ano foi o suficiente para transformar milhões de vidas, para se aproximar o olhar apenas do Ceará, afetar dezenas de milhares, ceifar mais de oito mil vidas e multiplicar as incertezas que são próprias do tempo futuro.

Em seu primeiro semestre de enfrentamento da Covid-19, o cearense viu seu cotidiano ser alterado, não apenas uma vez, mas tantas que, no início da crise, era difícil fazer projeções válidas para a semana seguinte. O presente é provisório, não apenas pela razão óbvia de que ele sempre se equilibra entre o passado e o futuro. É provisório porque mudanças drásticas, como se viu, podem acontecer, num tempo ainda mais curto, de um mês ou mesmo de poucos dias.

Não será esquecido, enquanto houver testemunhas, o tempo de exceções e de excessivos desafios e sofrimentos. Quando estas aqui não mais estiverem, é cedo para se adivinhar o suporte, mas certamente estes primeiros meses já terão se inscrito na história.

Será então difícil reconstituir as dores que se abateram sobre o Estado. A pandemia levou pais e filhos, avós, vizinhos, colegas de trabalho, amores e amigos e mesmo desconhecidos que a empatia trouxe para mais próximo. A emergência sanitária, de uma doença altamente contagiosa que, muitas vezes, está ao alcance de um simples toque, não deixou margem para se duvidar da interdependência de todos.

De par a par do País, e também aqui no Ceará, a realidade imposta pela Covid-19 deixou mais evidente as desigualdades sociais. Descompassos de desenvolvimento e de acesso a serviços básicos tornaram ainda mais difícil o embate contra a doença. As lições sobre o que precisa ser corrigido foram dadas, em áreas tão distintas quanto a educação, a economia e a ciência.

Os últimos seis meses, contudo, também serão lembrados por incontáveis episódios de superação, pessoais, coletivos e institucionais. Não serão esquecidas as manifestações de solidariedade, que nos momentos de maior gravidade, socorreram setores da sociedade que viveram seus dias mais difíceis.

Não deverá esvanecer os esforços de cada categoria dos chamados serviços essenciais que continuaram operando, quando ainda não se tinham um quadro preciso dos riscos da doença; e nem a resiliência de todos quanto suportaram as provações de uma crise sistêmica, sanitária decerto, mas também social e econômica.

A escalada da doença, deve-se lembrar, foi acompanhada pela tenacidade dos profissionais de saúde e pela corrida do Poder Público para equipar hospitais e outras unidades de saúde quando os insumos eram escassos diante da demanda global.

Que os próximos seis meses tragam dias melhores e que o cearense se mantenha firme, fazendo valer os aprendizados desta dura experiência.