Reforço vacinal

Como se investido de uma potente força magnética, a pandemia da Covid-19 atraiu para si atenções e monopolizou as preocupações relativas à saúde. Impedimento de ir e vir, atendimentos de saúde descontinuados ou temporariamente suspensos e mesmo o receio de muitas pessoas de se exporem à contaminação: todos esse fatores impactaram nas atenções à saúde. O balanço de 2020 será, inevitavelmente, negativo, não apenas pelas perdas da Covid-19, mas também por seus efeitos colaterais, diretos e indiretos. Parte disso pode ser recuperada, não sem esforço e disciplina, nos próximo anos.

Demanda particular atenção o caso das campanhas de vacinação, que têm apresentado números em queda ao longos dos últimos cinco anos. A situação extraordinária de 2020 dificilmente deixará de ter um impacto negativo sobre esse quadro. O ano passado - quando a rotina da população permanecia inalterada - foi, não obstante, alarmante. Pela primeira vez em duas décadas, o Brasil não atingiu as metas estabelecidas para as principais vacinas indicadas a crianças de até um ano. Os dados são do Programa Nacional de Imunizações.

Ter deixado de alcançar as metas de cobertura vacinal é duplamente triste: primeiro, por confirmar uma tendência de queda, que começa em 2015. Não se trata de um tropeção ocasional, mas de um obstáculo que, ano a ano, aumenta. O segundo motivo que faz a situação ser particularmente lamentável é o fato de o Brasil ser reconhecido por manter um dos maiores e mais bem-sucedidos programas de imunização do mundo.

Em regra, a meta de cobertura vacinação de crianças varia entre 90% e 95%, a depender do tipo a ser aplicado. Quando os números registrados ficam abaixo da meta, o risco de retorno de doenças consideradas erradicadas é considerado alto. Exemplo recente foi visto com os surtos de sarampo, documentados desde o ano passado. Em 2019, foram notificados 64.765 casos suspeitos da doença, dentre os quais foram confirmados 18.203, por testes laboratoriais. Neste ano, até o fim do primeiro semestre no Brasil, tiveram confirmação laboratorial 3.629 casos.

Considere-se ainda que foi a vacina tríplice viral, a que protege contra o sarampo, ainda assim, aquela que alcançou o maior índice de cobertura na vacinação de rotina, com 91,6%. O menor - da ordem de 69% - foi a da vacina pentavalente, cobrindo males como difteria, tétano e coqueluche. Nos casos das aplicações de suspensões que atuam contra poliomielite e tuberculose, a cobertura foi a menor desde que houve a incorporação completa no Sistema Único de Saúde (SUS) - há 23 anos.

Enquanto o mundo espera, justamente, por uma vacina (eficiente na prevenção da Covid-19), é preciso que o poder público, em suas instâncias federal, estadual e municipal, busque reverter esse quadro que é, sem exageros, potencialmente trágico. Emergências sanitárias, ficou mais do que claro neste ano, são capazes de provocar estragos não apenas à saúde dos indivíduos e das comunidades, mas a todos os setores da sociedade, notadamente da economia.

Regularizar repasses de vacinas, reforçar campanhas educativas e chegar às famílias são ações indispensáveis. São investimentos na saúde dos pequenos e da coletividade.