Os próximos dez anos

Em setembro de 2015, os chefes de estado e de governo reuniram-se na sede da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova Iorque, e assinaram um documento - sob o título de "Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável" - por meio do qual se comprometeram, até 2030, a, entre outras coisas, "acabar com a pobreza e a fome em todos os lugares; combater as desigualdades dentro e entre países; construir sociedades pacíficas, justas e inclusivas; proteger os direitos humanos e promover a igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres e meninas; e assegurar a proteção duradoura do planeta e seus recursos naturais".

Eles também resolveram "criar condições para um crescimento sustentável, inclusivo e economicamente sustentado, prosperidade compartilhada e trabalho decente para todos, tendo em conta os diferentes níveis de desenvolvimento e capacidade nacionais".

Passaram-se cinco anos, e a promessa dos que governam os países do mundo mantém-se no terreno da utopia diante do tão pouco, quase nada, realizado nesses sentidos até este 2020. Faltam 10 anos para que se cumpram os objetivos da Agenda 2030, e a constatação é de que, em vez de avanços, houve retrocessos, agravados pela Covid-19, que atinge hoje a totalidade das nações cujos governantes subscreveram o documento.

Se os responsáveis pela gestão pública, nos quatro cantos do mundo, já se olvidam, em tão pouco tempo, do que solenemente prometeram cumprir; os executivos das empresas privadas fazem o oposto, dando passos firmes na direção do cumprimento da promessa de sustentabilidade, a começar pela percepção de que, além do lucro, mas não o lucro a qualquer preço e que fere a ética e o meio-ambiente - eles se empenham em aplicar, para dentro, políticas de valorização de profissionais, ensinando-lhes as boas práticas da ética e do respeito à natureza, e, para fora, projetos que reduzam as emissões de carbono.

Se focarmos atenção no Brasil e o compararmos com os outros mais de 190 países que se comprometeram com a Agenda 2030, a percepção sobre o que se faz aqui nesse sentido não será diferente da que se anota no mundo. A discussão sobre as queimadas na Amazônia, mesmo impregnada por um viés político e ideológico que só se acentua, tem servido para revelar mais claramente os díspares - alguns até mesmo criminosos - interesses dos que disputam a posse da terra naquela que, além de guardar 18% da água doce do mundo, é a área onde se domicilia a maior biodiversidade do planeta.

Empresas brasileiras de todos os portes, inclusive cearenses, estão assumindo uma posição ostensivamente a favor do que se começa a denominar de novo capitalismo, ou capitalismo consciente, ou capitalismo inclusivo, ou capitalismo sustentável, voltado, também, para o compromisso social que deve ter o capital no crescente desafio - que é de todos - de reduzir ao mínimo (o ideal seria erradicá-las) as desigualdades econômicas e, principalmente, sociais.

Economistas, cientistas e pensadores estão a repetir que o mundo e sua população não serão mais os mesmos após esta epidemia. Os gestos de solidariedade que se multiplicam por todos os países dos cinco continentes revelam que o gênero humano tem boa índole associativa. É possível crer que, até 2030, mudanças significativas podem ser operadas em prol da humanidade.