O tempo e o voto

Chegou à sua última semana o Mutirão da Biometria, realizado pelo Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE-CE), no Centro de Eventos. A sexta-feira, 29, é o último dia para realização do cadastro biométrico obrigatório. Com o ciclo de 2019, a expectativa do Tribunal é concluir o cadastramento dos eleitores de todo o Estado, possibilitando a realização de eleições 100% biométricas já no próximo pleito, em outubro de 2020.

Com o objetivo de tornar mais segura a identificação dos eleitores no momento da votação, o cadastramento foi feito por etapas, sendo inicialmente obrigatório para um grupo de cidades e, em seguida, outro e mais outro, até sua conclusão, no corrente ano. A primeira experiência no Ceará se deu há 10 anos, no município de Eusébio. Quando um município era incluído na lista daqueles onde o cadastramento biométrico passaria a ser obrigatório, a não observância do eleitor ao prazo do TRE resultava no cancelamento do seu título.

Há outras consequências para quem não regularizar sua situação na Justiça Eleitoral. O cancelamento do título traz uma série de consequências com o CPF. Além de ficar impedido de votar e de ser votado nas próximas eleições, o cidadão não pode inscrever-se ou receber o benefício do Bolsa Família; solicitar a emissão de passaporte; matricular-se em instituições públicas de ensino; fazer empréstimos em bancos oficiais; fica impedido de tomar posse em cargos públicos e, em caso de servidores públicos, de receber salário.

O desejo de exercer o direito ao voto nas Eleições de 2020, somado ao receio de enfrentar a lista de restrições aqui mencionada, levou os eleitores retardatários a uma corrida para realizar o cadastro nos últimos meses do prazo do ciclo de 2019. A imagem de filas imensas a darem voltas no Centro de Eventos tem se repetido desde o começo do Mutirão da Biometria. E desde já se sabe: nem todos os eleitores ficarão regulares com a Justiça Eleitoral.

A corrida final para fazer o cadastro biométrico em tempo hábil de sufragar nas Eleições de 2020 traz lição previdente de que o mau hábito da procrastinação deve ser combatido e, em certos aspectos da vida, não deve mesmo ser tolerado. Fala-se aqui não do Estado, mas do cidadão, compromissado consigo mesmo e com o futuro que anseia para si e para seus pares. Não se deve esquecer o objetivo último de tamanha mobilização: exercer o papel de eleitor, se posicionar e fazer escolhas que determinam o tipo de administração que se quer para os próximos anos, a que tipo de lideranças se confiará a pavimentação dos dias vindouros.

Em menos de um ano, os brasileiros irão às urnas, eleger (ou reeleger) prefeitos e vereadores. Pode parecer tempo de sobra e falar neste tempo, comportamento marcado pela ansiedade. Mas a verdade é outra. Forças políticas e econômicas, com ligações partidárias ou não, já se movimentam intensamente, fazem articulações, costuram alianças e definem candidatos.

Deixar para a data limite a reflexão sobre os rumos da política e a avaliação dos atores que estão em cena neste ciclo eleitoral pode ser desastroso. A dor de cabeça que pode daí decorrer tem chances de ser bem maior do que a advinda do desencontro no cadastro biométrico.


Assuntos Relacionados