O próximo passo

Existe uma máxima popular de que pior do que não ter é deixar de ter. O auxílio emergencial tem dado um importante e necessário fôlego às famílias mais necessitadas que perderam rendimentos, sobretudo, nos períodos de maior isolamento nesta pandemia - que não acabou, diga-se.

Esse fôlego que faz a economia girar beneficia diretamente várias cadeias produtivas, mas será preciso cautela e parcimônia para os meses que virão, de redução no repasse auxiliar e consequente retração no comércio, pois a economia precisará andar com as próprias pernas.

O varejo, que sofreu uma queda abrupta no mês de abril, viu retomada em julho, com variação de 5,2%. Se comparada a fevereiro, antes do isolamento, a variação positiva foi de 5,3%. Um bom sinal, afinal, milhões de pessoas recuperaram poder de compra graças à injeção do auxílio.

Cidadãos colocaram contas em dia, até fizeram pequenas reformas em casa. Outros conseguiram, pelo menos, comprar a cesta básica. Mas persiste um dilema muito particular deste momento inteiramente atípico: quando o auxílio emergencial acabar, e muitos não terão conseguido seus empregos de volta, como será?

Conforme dados do Ministério da Economia, mais de 357,6 mil trabalhadores cearenses tiveram contratos de trabalho suspensos até o fim de agosto, mais da metade deles em Fortaleza. Conforme o Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda, o trabalhador que teve seu contrato temporariamente suspenso por conta do coronavírus terá seu 13º reduzido proporcionalmente ao tempo da suspensão. Some-se a isso o fim breve do auxílio emergencial.

Na prática, o poder de compra será menor, até mesmo no fim do ano, em que as compras do varejo abastecem a economia e geram empregos temporários.

A receita do varejo no Ceará apresentou queda de 9,5% no acumulado de janeiro a julho deste ano. Poderia ter sido pior, diante do cenário de crise que temos vivido, mas reflete também a importância dos valores temporários injetados pelo Governo.

Dirigentes lojistas admitem que acreditavam numa recuperação mais gradual da economia. Números estimados para outubro já se confirmam neste setembro. Mas assim como a pandemia não acabou, e, frise-se, é preciso evitar aglomerações e usar máscaras, a administração pública, em especial o Governo Federal, precisará manter-se alerta para os rumos que a economia irá tomar com menos dinheiro emergencial circulando.

A correção de rumo inflacionário do arroz teve uma medida pontual para evitar a disparada de preços. A iniciativa de alíquota zero na importação até o final do ano vem para dar um freio na escalada de preço desse importante item da cesta básica.

Mas quais os riscos de outros produtos da mesma cesta sofrerem disparada inflacionária? Por isso, foi pedagógica a medida do Ministério da Justiça em solicitar esclarecimentos sobre a variação de preços aos setores de produção, distribuição e venda dos produtos. Não quer dizer que todos sejam responsáveis pelo aumento, mas a notificação serve de alerta para que não haja oportunismo, de qualquer ordem ou setor, diante do pontual aumento do poder de compra do brasileiro. É preciso manter um olho no presente e na sinuosidade da estrada ao longe, no futuro breve.