Inteligência contra o crime

O Governo do Ceará anunciou esta semana que retirou mais de R$ 83 milhões em bens de grupos criminosos nos últimos dois anos. É uma quantia que até supera a receita tributária de muitos municípios do Estado. Esse ataque orientado é chamado de "desidratação financeira" - uma estratégia que visa a enfraquecer quadrilhas e outras formações delituosas por meio do cerceamento da logística e de outros recursos que venham a estabelecer.

O esforço de enfraquecimento das organizações tem sido executado mediante ações técnicas em diversas frentes, da jurídica à contábil, em campos público e privado. A Delegacia de Combate aos Crimes de Lavagem de Dinheiro, componente do Departamento de Recuperação de Ativos, da Secretaria da Segurança, responde pela coordenação das iniciativas.

Segundo a Delegacia, 231 veículos diversos, incluindo carros, caminhonetes, caminhões e motocicletas, foram apreendidos. Uma aeronave complementa essa, digamos, "estrutura de mobilidade" dos grupos. Também foram retirados do poder dos bandidos 66 imóveis, como casas, apartamentos, pontos comerciais e terrenos.

Entre os grupos estão as chamadas milícias, que agora se afiguram como ameaças graves à ordem social e que espreitam sobretudo as comunidades mais carentes, e as composições que se valem da corrupção para acumular dinheiro e poder.

Os procedimentos de descapitalização são, de fato, um golpe significativo nas facções que roubam cargas, traficam drogas, assaltam bancos e que, a exemplo do que fazem os empreendimentos legítimos, precisam de infraestrutura e de outros meios para funcionar. As medidas alcançam, ainda, contas bancárias, joias e pagamentos de previdência privada, sem considerar aparelhos eletrônicos, como computadores, telefones e outros itens.

A exemplar iniciativa tem, contudo, outra virtude: a de demonstrar que não se combate a insegurança somente com troca de tiros ou apenas com os métodos policialescos.

O uso da força é necessário e indispensável, de fato, assim como o treinamento específico dos agentes da segurança, uma vez que a eficiência que se busca e se espera efetiva em muitas situações se dá mesmo pela utilização de armamentos e de outros equipamentos. Mas existe um elemento que a cada momento se mostra mais relevante: a inteligência.

A aplicação de soluções científicas em operações investigativas tem obtido resultados extremamente positivos na contenção dos malfeitos, sem riscos para os cidadãos, o que oferece ganhos extras para a sociedade.

Os dados referentes ao recolhimento de bens do crime organizado no Ceará já deixa isso patente.

É assim, não custa dizer, que se pode imobilizar os lados mais sofisticados do crime, que até engajam profissionais de áreas reconhecidas como forma de dar suporte a ações ilegais.

É pertinente a observação de que o crime também se moderniza, incorporando artimanhas e tecnologias e ocupando novos espaços, mas é absolutamente cabível que as instituições do cidadão se previnam e se mantenham preparadas.

A força real está no conhecimento e no saber.


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