Incertezas do turismo

Um dos setores mais duramente afetados pela consequência econômica e social da pandemia da Covid-19, a cadeia produtiva do Turismo recebeu uma notícia auspiciosa nesta semana. Em votação simbólica, o Senado Federal aprovou a Medida Provisória 963.

A sanção do Congresso Nacional a transformou em Lei, abrindo um crédito extraordinário de R$ 5 bilhões destinado ao financiamento de micros, pequenas, médias e grandes empresas da área. A crise sanitária por que passa o Brasil teve, na atividade turística, o efeito de um tsunami, destruindo empresas e empregos.

O Governo da União apressou-se a providenciar auxílio aos agentes econômicos castigados mais duramente pelos efeitos da pandemia, incluindo os do turismo. Contudo, o resultado não foi o esperado: os aviões, sem ter o que transportar, permaneceram no solo; os hotéis, sem clientes, fecharam e só agora reabrem, e por ora com ocupação reduzida; agências de viagem, bares e restaurantes cerraram suas portas.

No Ceará, os bares continuam proibidos de funcionar; congressos, feiras, exposições, seminários, simpósios e outros eventos corporativos ou sociais, como festas de casamento, que movimentam a cadeia do turismo, também seguem interditados, apenando várias categorias profissionais, como a dos músicos.

O socorro financeiro que agora será prestado a essa cadeia chega em boa hora e reativará - esta é a esperança da Embratur - o setor que responde por 8,1% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Mas há um detalhe importante que chama a atenção: dos R$ 5 bilhões que a abriu extraordinariamente no Orçamento Geral da União, apenas R$ 1,4 bilhão foi empenhado, sendo que somente R$ 418,4 milhões têm registro de efetivamente liberados.

Ou seja, não houve a esperada corrida a esse socorro emergencial, de acordo com a Consultoria de Orçamento e Fiscalização da Câmara dos Deputados, que acompanha as despesas públicas dirigidas ao enfrentamento da crise sanitária.

Envolvidas pelas incertezas do futuro próximo de sua atividade, as empresas da cadeia do turismo parecem temer qualquer novo endividamento, e esta deve ser a razão para a baixa procura do financiamento oferecido pela MP 963. Enquanto a ciência não oferecer ao mundo a vacina contra a Covid-19, e campanhas abrangentes imunizarem grandes parcelas populacionais, essas dúvidas permanecerão.

Empresas aéreas retomam seus voos, mas com foco nas rotas rentáveis, razão pela qual permanecem suspensos voos diretos entre capitais do Nordeste - uma viagem de Fortaleza para São Luís e vice-versa, por exemplo, hoje só é possível com conexão em São Paulo ou Brasília.

A Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH) tem desenvolvido um grande esforço no sentido de sensibilizar os governos estaduais e municipais a retomarem as atividades multitudinárias - como os grandes eventos - para que o turismo retome sua força, reanimando empresas e reempregando a mão de obra.

Há, porém, da parte de quem governa o temor de que uma reabertura descontrolada possa ter consequências danosas à saúde pública, com um repique da crise. Assim, a cautela e o bom senso devem, neste momento, caminhar juntos.