Editorial: Uma trágica pesquisa

Para os que ainda duvidam da gravidade das consequências da pandemia do novo coronavírus sobre a atividade econômica no Brasil, os resultados da "Pesquisa Pulso Empresa: Impacto da Covid-19 nas Empresas", publicada ontem pelo IBGE, são dissipadores. Um desses resultados é contundente e trágico: de 1,3 milhão de empresas que cerraram suas portas durante a primeira quinzena do passado mês de junho, de modo definitivo ou não, 522,7 mil tiveram como causa o isolamento social causado pela doença.

O coordenador da pesquisa, Alessandro Pinheiro, explicou que a crise virótica teve impacto muito forte nos segmentos que, na realização de suas atividades, necessitam do contato pessoal com sua clientela, algo muito difícil de acontecer pela restrição da circulação das pessoas imposta pelos governos estaduais e prefeituras municipais.

Aqui, no Ceará, a mesma nefasta consequência registrou-se não apenas em junho, mas também nos meses de maio e abril, atingindo principalmente as micro e pequenas empresas da área de serviço, como bares e restaurantes. Estes já reabriram para o funcionamento de 9 às 16 horas, devendo ser autorizados a fazê-lo também no período noturno, a partir da próxima semana. A operação dos bares, porém, ainda segue interditada, sem embargo da pressão junto ao governo do Estado feita pela entidade que os congrega - a Abrasel.

Bares e restaurantes desenvolvem atividades empregadoras intensivas de mão de obra. Para se manterem em franca atividade, eles precisam de 100% da presença do cliente, que hoje está inibido e até constrangido de frequentá-los diante da tempestade diária de notícias sobre a pandemia.

Com o isolamento social imposto por decreto e fiscalizado ostensivamente pela Polícia e, ainda, diante do que continua a ver, a ler e a ouvir pelos meios de comunicação, esse cliente, principalmente o da chamada faixa de risco - com idade acima de 60 anos - prefere, temeroso, permanecer em casa, quaisquer que sejam suas condições. Uma consequência que a pesquisa do IBGE facilmente apuraria, como efetivamente apurou. Na Região Metropolitana, o número de novos casos da Covid-19 mantém sua curva declinante, o que levou os hospitais particulares a desmobilizarem suas unidades extras de terapia intensiva. Isto no plano da saúde.

No plano social e econômico, o cenário ainda é de preocupação, pois tem a ver com o desemprego, que é alto, e com a retomada da atividade, que é lenta. As empresas que se mantiveram fechadas durante os últimos 90 dias e que agora são reabertas demorarão algum tempo até retomarem à normalidade de suas relações com fornecedores, colaboradores e clientes, o que significa dizer que postergarão a readmissão dos funcionários que dispensaram. Em resumo: há um discreto otimismo, ainda insuficiente para insuflar investimentos.

Aproveitando essa expectativa, que é tímida, mas crescente, o Ministério da Economia trabalha para enviar ao Congresso sua proposta de reformas Tributária e Administrativa. Como este é um ano de eleição municipal, que a todos interessa, conclui-se que essas reformas só serão votadas depois desse pleito eleitoral, o que é de se lamentar, pois o País precisa delas, e com urgência.


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