Editorial: Um desafio para a política

A situação imposta pela pandemia do novo coronavírus desafia a política a fazer valer seu significado, sem desvios ou deturpações tão comuns em tempos polarizados. O espírito de colaboração deve pautar as relações entre instituições e poderes republicanos. Devem estar prontos para funcionar de forma extraordinária, aqui, sendo apropriada a polissemia da palavra. Extraordinário, por romper com normal e cotidiano; e por ser exercício de excelência. 

A urgência de se conter a situação se dá não somente pelos riscos inerentes à doença, mas também pela necessidade de minimizar seu impacto sobre as redes de atendimento de saúde, pública e privada. Já confrontadas por seus problemas ordinários e, no caso do Ceará, pela proliferação de doenças da estação, de gravidades variadas, as unidades de saúde precisam estar preparadas para a eventual chegada de uma leva de enfermos da Sars-Cov-2. Quanto menor o número de casos, melhores as chances de os pacientes se recuperarem plenamente da enfermidade.

Agilidade nas respostas não é uma opção. É compulsória, determinada pela condição extraordinária do caso e pelo fato de que, contra a pandemia, a prevenção ainda é a principal arma. Para tal, é fundamental que todos os atritos políticos sejam deixados de lado. São anacrônicos, em absoluto, e devem ser rejeitados por todos aqueles que têm senso de responsabilidade para com a sociedade em que vive. Que mesmo os embates próprios ao ano eleitoral sejam postos em animação suspensa, de forma a não interferirem nas decisões que precisam ser tomadas.

A política das hostilidades, do atrito entre poderes, da polarização de apoiadores e da proliferação de boatos e acusações já se mostrou incompatível com os interesses e as necessidades partilhados por todos os cidadãos. A rigor, nem sequer é digna de ser assim tratada, pois a política está, por definição, relacionada ao poder, mas também à administração e ao bem comum.

Entende-se a condição extraordinária da pandemia. Não é uma experiência comum, que tenha sido partilhada anteriormente pelas instituições e pelas pessoas. Por sua extensão, a crise de saúde afeta a todos, e as especificidades de cada caso não permitem que sejam tomadas medidas universais contra a doença. Contudo, diretrizes e protocolos são fundamentais. E a sociedade espera de seus representantes, de sua classe dirigente, posições nesse sentido.

Para tal, é indispensável a colaboração de todas as frentes. Instituições de diversas áreas, como o sistema de Justiça e as autoridades legislativas, têm sido convocadas pelo Poder Executivo – em suas instâncias federal, estadual e municipal – para o alinhamento de ações e para o encaminhamento rápido de medidas para o controle da epidemia. Os ruídos, em casos como o atual, devem ser eliminados. O momento não é para o cultivo de diferenças. 

O Governo do Estado tem tomado medidas rápidas e contundentes, e atualizado suas orientações para a população. Algumas prefeituras acompanharam as determinações estaduais, traçaram e anunciaram planos próprios. Para que tudo seja respeitado e que se aproxime do ideal, a colaboração é necessária, livre de interesses outros que não o bem coletivo.