Editorial: Tecnologia nos currais

Mais importante instituição mundial de pesquisa da agricultura tropical, a Embrapa criou e distribuiu por diferentes regiões do País centros de investigação científica que mudaram, radicalmente, as práticas, os métodos e até a gestão do setor primário da economia nacional. No Nordeste, sobressaem-se a Embrapa Algodão, em Campina Grande (PB), a Embrapa Caprinos e Ovinos, em Sobral (CE), e a Embrapa Agricultura Agroindústria Tropical, sediada em Fortaleza, cujos pesquisadores criaram, desenvolveram e distribuíram não só no Brasil, mas também no exterior, a variedade do cajueiro anão precoce, cuja produtividade é até cinco vezes maior do que a da árvore de copa larga, já em avançado estágio de extinção. Graças aos cientistas da Embrapa, o Brasil é hoje uma das três potências agrícolas do mundo, sendo a primeira na produção de soja.

Localizado na geografia da Região Norte do Ceará, o Centro Nacional de Caprinos e Ovinos tem focado sua atuação nas áreas dos sertões dos Inhamuns e de Crateús, onde estão localizados mais de 50% do rebanho da ovinocaprinocultura cearense. Esta é uma atividade que cresceu extraordinariamente no Estado, exatamente por causa da atuação da Embrapa, cuja tecnologia tem melhorado o padrão genético do rebanho. Infelizmente, como reconhece a própria empresa estatal, ainda é raquítica a absorção dessa tecnologia por parte dos criadores, e por uma causa surpreendente: a fragilidade da cadeia produtiva, mais dedicada à informalidade - que pode ser observada nas feiras regionais, como a de Quixadá, onde semanalmente são comercializadas milhares de cabeças de carneiros e cabras - do que na organização e na implementação de um negócio que já se revelou de alto e crescente potencial.

O Ministério da Agricultura vem, desde o ano passado, executando o AgroNordeste, programa imaginado com o objetivo de fomentar as cadeias produtivas da agropecuária regional, e uma delas é a da ovinocaprinocultura, tirando proveito da presença da estrutura científica da Embrapa em Sobral. Mas para que o programa tenha êxito, é exigida a ativa participação dos criadores e de suas entidades nesse esforço, a começar pela profissionalização de sua atividade, algo de que os pesquisadores da Embrapa se ressentem. Há exemplos a serem replicados, como o das cadeias produtivas do leite, da hortifruticultura, da carcinicultura e das plantas ornamentais, que tornaram o Ceará, hoje, uma referência nacional. Para fortificar o alicerce e os objetivos do AgroNordeste para o setor da ovinocaprinocultura, a Embrapa está, neste momento, requalificando 150 técnicos do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), aos quais caberá a transferência de tecnologia para 4.500 produtores selecionados pelo programa, parte dos quais voltados para a criação de ovinos e caprinos.

A Embrapa, por decisão de sua alta direção, decidiu aproximar seus centros de pesquisa do setor produtivo. No caso específico da ovinocaprinocultura, a Embrapa empenha-se, no Ceará, em contribuir para tornar forte a atividade, produzindo carne para o mercado formal, agregando valor e sustentabilidade graças ao uso da tecnologia oriunda das pesquisas dos seus cientistas.


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