Editorial: Reverência aos mestres

Fernando Sabino, em seu texto “A última crônica”, define a família como “célula da sociedade”. Neste 15 de outubro, Dia do Professor, não deixa de ser oportuno atribuir a mesma expressão ao trabalho de todos os mestres. São eles que, com singular esmero, transformam realidades e suscitam, no íntimo, a vontade de saber.

O contexto de pandemia do novo coronavírus, contudo, fez com que esses profissionais, juntamente com os estudantes e demais funcionários, se afastassem das dependências físicas das escolas a fim de driblar o contágio pela Covid-19.
A maioria, inclusive, mesmo após a abertura gradual das atividades presenciais de creches e pré-escolas particulares de Fortaleza, no dia 1º de setembro, e de algumas séries escolares no início deste mês, permanecem nessa condição – embora contribuindo com a aprendizagem e o desenvolvimento dos alunos por meio de aulas remotas.

Eis aí, inclusive, um dos pontos que merece uma grande reflexão neste momento: que condições estão sendo ofertadas aos profissionais da Educação para que possam realizar seu ofício com dignidade e respeito, atentos às próprias necessidades e aos apelos dos discentes e das instituições aos quais estão vinculados?

Divulgados no último mês de julho, dados da pesquisa “Trabalho Docente em Tempos de Pandemia” – realizada em diversos estados do País pelo Grupo de Estudos Sobre Política Educacional e Trabalho Docente (Gestrado/UFMG), em parceria com a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) – dimensionam a amarga realidade de professores brasileiros neste intrincado instante.

O levantamento – que buscou informações sobre condições de trabalho, relação com estudantes, formação profissional e impactos na saúde mental dos docentes no cenário atual – mostra que, entre os profissionais atuantes no Ceará, 91% não tinham experiência alguma com ensino remoto antes da pandemia. Outros 62% afirmaram que, até aquele momento, não estavam recebendo formação ou suporte das instituições para o trabalho online.

A maioria (84%) dos respondentes em todo o território nacional (quase 16 mil professores participaram do questionário virtual) foi de mulheres. E 89% atuam em escolas municipais, 5% em estaduais, outros 5% em ambas, e 1% em federais. Além disso, 41% dos professores lecionam nos anos finais do Ensino Fundamental, 29% na Educação Infantil e outros 22% nos anos iniciais do EF.

Por sua vez, os docentes que já retornaram à rotina presencial de aulas convivem com o constante temor decorrente da exposição ao vírus – ainda que os protocolos sanitários sejam seguidos pelas escolas nas quais atuam. Tal sensação pode trazer sérias consequências ao bem-estar e à saúde mental dos trabalhadores, a exemplo de ansiedade, pânico ou até mesmo depressão.

Mais que apenas demonstrar palavras de afeto aos mestres, que neste dia reservado a eles, e em todos os outros, prevaleça o ímpeto de demonstrar, por parte de todo o corpo social, sua importância. Ao mesmo tempo, que se procurem formas de valorizá-los, primando por condições trabalhistas justas e sintonizadas com a relevância que a profissão tem e merece.


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