EDITORIAL: REPENSAR A EDUCAÇÃO

À medida que Fortaleza e outros municípios do Ceará passaram a retomar gradualmente as atividades econômicas, inúmeros desafios se avolumaram. Nesse intrincado panorama, a questão do regresso das aulas presenciais na Capital tem ganhado cada vez maior destaque. Prevista, no momento, para ocorrer no dia 20 de julho - a depender do avanço da cidade para a fase 4 do plano de retomada, caso os indicadores de saúde relacionados à Covid-19 continuem em queda - a volta preocupa bastante por ser um tema complexo. Nos últimos dias, o secretário executivo de Planejamento e Orçamento do Estado e coordenador do plano de retomada, Flávio Ataliba, tem explicado as razões para tamanha complexidade.

Um dos motivos que sustentam a opinião do gestor está relacionado à maneira como se dará o cumprimento dos protocolos determinados pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Entre eles, está o distanciamento entre estudantes, quantidade de pessoas em cada sala e como proceder nos intervalos entre aulas. O secretário evidenciou que é necessário verificar se as escolas estão preparadas fisicamente para o retorno, tendo em vista as exigências estipuladas.

Há outros pontos igualmente relevantes que se desdobram nessa temática. Um deles diz respeito à necessidade de repensar os modelos de educação que acompanharam alunos, famílias e instituições de ensino até aqui. É certo que, após a pandemia, o mundo não será mais o mesmo. E, por esse motivo, repetir padrões baseados em um sistema de competitividade e cumprimento desmedido de cronogramas, sem levar em consideração individualidades de cada estudante e professor, será inadmissível.

Esse ponto ficou ainda mais evidente nesta realidade atípica. De um lado, enquanto escolas da rede privada chegam a receber críticas de alunos e pais pelo excesso de atividades via internet, com impactos também na produtividade de professores; do outro, docentes e discentes da rede pública sofrem com a falta de um plano emergencial que atenda às demandas de repasse de conteúdos, impactando diretamente na maneira como se apropriarão das disciplinas daqui para frente, consequentemente alargando a histórica desigualdade educativa do País.

Pôr na balança esses desalinhos e deficiências de ambas as partes se torna imperativo. Não é suficiente apenas alterar o calendário escolar e as normas de higiene, adaptando-se à realidade que bate à porta. Sobretudo, compreender que este é o momento para que cada entidade ligada ao conhecimento, especialmente os saberes iniciais, demonstrem a real face de um espaço de aprendizado e convivência, baseado na paciência, escuta atenta e acolhimento integral. Diariamente, o planeta está enxergando a necessidade de atos de empatia e solidariedade, por exemplo. Que tal plantar, com ainda mais ênfase, já nos jardins da infância e da juventude, essas premissas?

O medo e a apreensão decerto pautarão os primeiros meses de retorno à rotina. Compreensível. Contudo, deverão ser ressignificados para que mudanças há muito desejáveis no seio da sociedade, sempre adiadas por falta de tempo, possam ganhar as salas de aula e, principalmente, as mentes e ações de estudantes, professores e famílias.


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