Editorial: Os alertas ambientais

Apressaram-se pesquisadores em todo o mundo, diante da oportunidade, a medir índices diversos acerca do impacto das atividades humanas sobre a natureza. A pandemia exigiu que grandes contingentes populacionais ficassem encerrados em suas residências, como medida protetiva para evitar a propagação da Covid-19, e isso criou condições para a observação científica que, de outra forma, seriam metodologicamente inexequíveis.

Não foram só os especialistas que puderam acessar tais transformações do momento. Mais eloquente do que qualquer medição, traduzida em percentuais e outras escalas de grandeza matemática, foi o registro, em zonas urbanas, de animais selvagens ou de integrantes da fauna de difícil avistamento. Trânsito mínimo de pessoas, circulação restrita de veículos automotores e indústrias paradas, condições do período de quarentena possibilitaram reconfigurar o ambiente urbano, de forma a ele se tornar mais convidativo e seguro para animais não domesticados.

A cena se repetiu pelo mundo. Câmeras documentaram insólitos passeios de macacos, crocodilos, cabras e até de cangurus por ruas desertas. Há sinais menos visíveis, mas o fato é que a natureza encontrou condições favoráveis para se regenerar. O mesmo se fez sentir não apenas na fauna e na flora, mas ainda nos oceanos e na qualidade do ar.

Uma pesquisa da Universidade Federal do Ceará (UFC) monitorou a qualidade do ar em Fortaleza durante a quarentena e na vigência da fase mais restritiva, de "lockdown". Os dados foram comparados ao de medições realizadas antes da crise. Que o ar teria ganhado em qualidade era o esperado, mas o avaliação conferiu exatidão a esta expectativa. A presença de poluentes na atmosfera, como partículas inaláveis, teve queda de até 58%.

Se há um efeito positivo das medidas de isolamento social, para além, claro, da evidente influência na redução de novos casos da Covid-19, é o da redução de índices de poluição. O balanço de 2020, neste quesito, não há dúvidas, será o melhor em décadas.

Certa euforia acompanhou cada uma dessas notícias. No entanto, trata-se de uma celebração apressada. Nos meses em quarentena, o mundo não trabalhou de forma a tornar permanentes todos estes ganhos. Por óbvio, não é de se esperar, nem mesmo de se desejar, que a humanidade viva seus dias futuros sob isolamento.

Ainda assim, cada uma dessas medições e mesmo a experiência sensória de se assistir a fauna e flora respirarem aliviadas, sem tanta presença humana, são positivas para se reforçar o que deveria ser compreendido por todos: que o mundo precisa de cuidados e que cada um, de seu lugar, pode contribuir.

Mesmo a emergência do coronavírus da síndrome respiratória aguda grave 2 (SARS-CoV-2) parece estar associada a agressões contra a natureza, acredita a comunidade científica. O vírus teria "saltado" de um animal selvagem não identificado para seres humanas, em feiras na China. No fim, sabe-se que o problema da preservação ambiental é menos técnico do que político, econômico e educacional. A crise atual alertou o mundo para a necessidade de mudanças, drásticas e rápidas, para o próprio bem e em benefício da vida no planeta.


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