Editorial: O papel da sociedade

Por ora, a retomada ampla das atividades consideradas não essenciais é um desejo de concretização incerta. Que tipo de prorrogação terá o decreto do Governo do Estado do Ceará, que se encerra nesta semana, ainda não se sabe com exatidão. Os setores produtivos têm se articulado no sentido de convencer o Palácio da Abolição a começar uma abertura gradual - como tem sido padrão nos lugares onde o distanciamento social já vem sendo relaxado. Até que isso seja possível e, de fato, determinado pelas autoridades, há pendências que têm se alongado mais do que o razoável e precisam ser resolvidas.

O que se observa, como tendência em todo o País, é um relaxamento informal. As ruas estão mais cheias e, nas vias, o tráfego volta a se intensificar. Há, claro, a dificuldade de se manter o distanciamento ideal. O que se abdicou de forma emergencial, com a continuidade do isolamento, por vezes não pôde mais ser postergado. Mas há também a circulação motivada pelo espírito negacionista, que minimiza a crise, ou por um desrespeito à corresponsabilidade para com o bem comum, base de toda sociedade e pilar intocável das democracias.

Outro exemplo do que precisa ser superado são as aglomerações em estabelecimentos como agências bancárias e casas lotéricas. A necessidade leva a população a buscar serviços indispensáveis, mas a distância recomendada de, pelo menos, um metro entre as pessoas, não tem razão para ser ignorada. Neste caso, há não só o papel do Estado em melhorar o quadro, mas o compromisso das instituições e das pessoas que precisa ser ativo.

As medidas adotadas não são voltadas contra cidadãos ou instituições. O objetivo é combater os males do coronavírus, freando a escalada de contágio e de mortes, possibilitando que os serviços de saúde consigam atender o máximo de pessoas possível. Exposições desnecessárias e individualistas têm um efeito negativo na coletividade. Prolongam a crise que todos desejam abreviada.

É imperativa a relação harmoniosa e ordeira com as determinações governamentais, ressaltando-se, claro, a importância de o Estado dialogar com a sociedade para buscar atender, suas demandas, tanto quanto possível e de forma segura. Ponto pacífico nesta pandemia é o papel fundamental que o poder público desempenha em uma crise de grandes proporções. Sem ferir a liberdade das instituições e dos cidadãos, deve estar pronto para garantir o bem comum, ordenando e mediando os interesses dos diversos setores de uma sociedade.

O quadro da pandemia no Brasil ainda é impreciso e mesmo com todo o empenho de governos estaduais, como cearense, a dimensão do problema é desconhecida. Sabe-se, contudo, que mesmo nos cenários mais positivos, a situação é das mais graves. O confronto à Covid-19 deve continuar a ser incisivo. Além de acompanhar a curva de contágio, a sociedade precisa mostrar que está pronta para medidas de reabertura gradual que o futuro aguarda. Para tal, não é necessária apenas a vontade, mas a disciplina e a consciência de que atos individuais têm consequências coletivas. Quando se chegar o momento de ser permitida uma maior circulação, a população deve estar apta a se proteger e proteger o próximo por meio de uma conduta responsável.