Editorial: O desafio que é complexo

Ainda que o mundo tenha enfrentado, anteriormente, pandemias mortais, algumas muitas vezes mais letais do que a Covid-19, o momento presente guarda particularidades que o fazem se distinguir de todas as experiências prévias. O mundo contemporâneo é tão interconectado, com fronteiras físicas e digitais tão porosas, que não foi uma surpresa a velocidade com que a doença se disseminou. A mesma inter-relação entre países torna a crise econômica desencadeada pela pandemia ainda mais complexa.

O mundo vive num estado de urgência, marcado pela velocidade, que faz a parada forçada para enfrentar o coronavírus absolutamente atordoante. O futuro é tão inesperado como nunca parece ter sido. Há, claro, movendo pessoas e instituições, a esperança e o desejo da retomada à "normalidade". Não se sabe se transitório ou se permanente, há mesmo um "novo normal" emergindo, com a adoção massiva de práticas que se consolidaram nos períodos de quarentena.

Deve fazer parte deste novo padrão de normalidade a busca por aceitar e compreender a complexidade das situações. Há algo de contundente na pandemia - a doença e a morte. Contra elas, as saídas simplórias e falsas não têm efeito e, sem demora, se veem insustentáveis, mesmo no âmbito do discurso. Seguir ilusões ou autoilusões não fará o problema passar.

No Ceará, segue em curso o plano de retomada econômica, com o retorno das atividades que ficaram suspensas, por não se incluírem na categoria de essenciais. É cedo para se medir o eventual impacto da semana de transição sobre o sistema de saúde do Estado. Por ora, os dados apontam para uma estabilização de novos casos e de óbitos decorrentes da doença. O Governo está atento a estes indicativos. Mantê-los é o objetivo imediato do Palácio da Abolição, para que em seguida se convertam em retração, com números caindo. São, portanto, determinantes para os dias em que se ensaia voltar à normalidade.

Para que a estabilização se confirme, perdure e, logo, as curvas no gráficos sejam descendentes, desejo e otimismo não são suficientes. Nem se pode exigir que o poder público garanta isoladamente a vitória contra a pandemia e seus efeitos. Há muito o que as pessoas e instituições podem e precisam fazer.

Diante de um inimigo, em grande parte, ainda desconhecido, a disciplina é fundamental, também o são a consciência de seus deveres e a disposição para acompanhar, passo a passo, os movimentos da pandemia. Se a metáfora que se usa é a da guerra, então é incontornável a atenção ao resultado das batalhas: onde e quando a Covid-19 avança ou se retrai.

Em Fortaleza, a Prefeitura Municipal adiantou que a estrutura especial montada para o enfrentamento da pandemia permanecerá montada, pelo menos, até o fim deste ano. O prazo serve à projeção que todos devem fazer, de que os meses vindouros deverão ser vividos com muita responsabilidade, seguindo-se medidas que minimizem o risco de exposição à doença.

O cuidado de si e do próximo, o compromisso com as recomendações dos especialistas de saúde e a disciplina. São disposições que podem garantir que o "novo normal" não se caracterize apenas pelo que há de excepcional, mas também pelo que o faz lembrar o que se deixou de ter nesses tempos e o que se quer recuperar no futuro.


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