Editorial: O desafio pós-pandemia

Tudo será diferente depois de passar a pandemia virótica que se espalha pelo mundo desde o começo do ano. Esforços tem sido feitos por todas as nações, no sentido de conter o contágio e tais ações não têm sido suficientes para dar um fim breve à crise. A Covid-19 segue matando pessoas, deixando outros tantos doentes e exigindo o isolamento de bilhões de pessoas. A necessidade de resguardar a população teve um impacto direto na produtividade e no consumo, aliada às indefinições quanto ao futuro, provocou uma crise econômica, da qual ainda é impossível se conhecer a extensão.

O novo coronavírus avança na socialização dos prejuízos humanos, sociais, econômicos e financeiros e, pelo que preveem os cientistas, causará ainda mais danos quando chegar às regiões mais pobres e isoladas de todos os países, onde, em regra, os serviços de atenção médica são mais escassos. É uma doença que, quando mata, por razões preventivas, impede que a família das vítimas se despeçam delas, seguindo os ritos habituais.

No Brasil, infelizmente, a pandemia transformou-se numa disputa política inadmissível, lamentável e condenável sob todos os aspectos. Estão certos os dois lados da questão - o que restringe ao terreno técnico e científico o enfrentamento da pandemia e o que quer reduzir as falências de empresas e a explosão do desemprego.

O desafio, em todas as latitudes, tem sido garantir que ambas as frentes possam ser bem sucedidas, de forma harmoniosa, quando há choques naturais entre elas. O que está errado nesse confronto é o viés interesseiro da política, que mistura alhos com bugalhos, tumultuando e dificultando o encaminhamento da solução, que só será alcançada se as divergências forem limitadas ao terreno da ciência, como diz e repete o ministro da Saúde, na opinião de quem, neste momento, o isolamento social - todos em casa - é vital para que se reduzam ao mínimo os efeitos do pico dos casos, previsto para este mês de abril.

Não resta dúvida de que a economia brasileira - e a do mundo - sofrerá duramente as consequências da Covid-19. Mudarão os modos de produzir e, mais ainda, os de trabalhar. Descobre-se- agora, de forma massiva, que o modo "home office" é tão ou mais eficiente do que o da presença física do trabalhador no escritório da empresa. Com certeza, a legislação trabalhista, aqui em outros países, terá de adaptar-se ao novo tempo para o qual, porém, só o profissional bem equipado terá mais chance.

O que fazer, então, com a massa de trabalhadores que, no chão da fábrica, monta automóveis e produz alimentos e medicamentos? Se antecipará o desafio para o qual a Organização Internacional do Trabalho (OIT) tem chamado atenção, com a crescente automatização do trabalho, em funções cada vez mais numerosas, graças ao avanço do uso de algoritmos e da inteligência artificial?

Um desafio, como a pandemia, exigira respostas de todos os governos. Se estenderá à política e aos políticos e, também, à magistratura. Por ora, mergulhados nesta tragédia pandêmica, estão todos - os governantes em primeiro lugar - dedicados a salvar vidas e a buscar saídas para que, aos poucos se retomem, sob condições seguras, todas as atividades sociais.