Editorial: O desafio de ficar bem

No que toca à quantidade de incógnitas e desafios a superar, não há momento na História recente do mundo que ombreie este que vivenciamos agora. Instante inédito, alimenta-se de muitas questões: "Será que vou ser infectado pelo novo coronavírus?", "Como proteger amigos e familiares do contágio?", "Meu emprego será mantido quando tudo isso terminar?", "Por quanto tempo essa situação vai durar?". São receios legítimos, de grande valia quando caminhamos nessa espécie de precipício, cujo fim ainda é denso e turvo. Contudo, também não deve passar despercebido um ponto igualmente crucial para o enfrentamento da pandemia, intimamente ligado às inquietações diárias: os cuidados com a saúde mental.

É bem sabido que nunca estaremos preparados para momentos de total incerteza na vida, sobretudo numa contemporaneidade que se utiliza de distintos e variados mecanismos para nos dar a sensação de que controlamos tudo, plenitude total. Basta recordar um instante. Há pouco mais de duas semanas, era extremamente fácil resolver a rotina na palma da mão - a marcação de uma consulta, a ida ao cinema, o happy hour na sexta-feira.

Um clique e voilà: feito mágica, as engrenagens do cotidiano iam se movimentando. Subitamente, não mais. A mudança total de perspectiva nos colocou no desconforto da indefinição, o que, para muita gente, tem sido um árduo desafio. Soma-se a isso o fato de estarmos em isolamento social, e os efeitos na mente se multiplicam: estresse, medo, necessidade de adaptação. Não à toa, inúmeros órgãos e instituições têm agido em prol da divulgação de medidas que chamem a atenção para a necessidade do autocuidado, essa prática tão primordial posta de escanteio no turbilhão de afazeres no qual estávamos imersos. A Organização Mundial da Saúde (OMS), por exemplo, publicou orientações para preservar o bem-estar durante este período. O leque de recados é grande, abarcando desde atitudes que devemos ter com outros até formas de explicar a situação para crianças. Também ganha destaque a urgência em aproveitar o tempo e fazer coisas que relaxem o espírito, e o alerta sobre pedir ajuda quando precisar, principalmente em momentos de exaustão, ansiedade e depressão.

Nesse sentido, o Centro de Valorização da Vida (CVV) emerge como um dos principais aliados, embora, felizmente, não apenas. Se possível, recorrer a serviços especializados sempre será a melhor forma de driblar determinados impulsos e sentimentos que podem, inclusive, diminuir a imunidade do organismo - consequentemente nos deixando mais expostos ao contágio. Ciente dessas questões, o Conselho Regional de Psicologia publicou portaria estabelecendo medidas administrativas temporárias para prevenir a transmissão do novo coronavírus. Entre elas, a possibilidade de atendimentos remotos, diminuindo a fronteira entre a população e os profissionais de saúde mental. São medidas capazes de desenhar novos horizontes num futuro ainda cheio de indefinições e que dependem de nosso esforço para tornarem-se efetivas. Cuidar de si e do outro, se antes já era atitude de resiliência e amor, agora adquire novo sentido: é a única forma de sairmos verdadeiramente sãos desse cenário. Respire. Vai passar.