Editorial: Novas adaptações

A máxima de que nada será como antes após a pandemia do novo coronavírus se confirma diariamente. A cada nova decisão de governos, órgãos e instituições, os desafios se avolumam, seja no plano coletivo, seja em uma perspectiva pessoal. A crise instaurada em decorrência do atual panorama, sem precedentes na história moderna, exige continuamente, assim, um novo olhar sobre práticas e costumes e, consequentemente, o perene exercício da readaptação.

Nesse sentido, é oportuno recuperar o caminho traçado desde o primeiro caso confirmado de Covid-19 no País, em 26 de fevereiro deste ano, até o instante vigente, de flexibilização de atividades em Fortaleza e várias outras capitais, do Brasil e do mundo. Desde o princípio, a partir do avanço de estudos científicos na área, o isolamento social se tornou a medida mais eficaz de frear o contágio pelo vírus. Logo, vieram os ajustes: o trabalho passou a ser em casa, bem como aulas e encontros culturais. Tudo ficou restrito a quatro paredes.

Necessária, ainda que difícil, a pausa compulsória apurou o sentido de urgência: a questão era mais complexa do que se imaginava e não se restringia somente aos sintomas físicos. Dadas as novas configurações, também se passou a lidar com problemas ligados à mente, tais como angústia, frustração, medo. Foi preciso ressignificar a realidade para atravessar um período que continua nebuloso, em que sobram interrogações e faltam muitas certezas.

Agora, nos passos iniciais do plano de retomada econômica, surge mais um dilema: como lidar com os sentimentos que afligem boa parte das pessoas neste processo de retorno às atividades? Especialistas já sinalizam doenças psicológicas que virão após a pandemia, tais como ansiedade e depressão, as mesmas mapeadas no início das medidas de confinamento social.

Isso porque, ao retornar para as empresas com ambientes fechados, a exemplo de algumas indústrias e linhas de produção, funcionários poderão sentir um certo desconforto, tendo em vista o receio de locais com aglomeração - em que se abre a possibilidade de contágio do novo coronavírus. Estar no mundo outra vez representa, portanto, outro choque de realidade, e, portanto, mais adaptações surgem no front.

Aos empreendimentos, cabe extrema cautela nessa dinâmica de regresso, sendo necessário um trabalho conjunto de ideias e ações, visando à mitigação de reflexos negativos em todos os aspectos. Os cuidados com a saúde e o bem-estar, por exemplo, devem estar em alta, devendo ser abordados frequentemente entre conversas e reuniões com equipes, na comunicação institucional e até mesmo nas redes sociais da empresa. Ao mesmo tempo, o reforço de que, fora dos locais de trabalho, ainda é extremamente necessário o distanciamento social. Torna-se essencial compreender que se é corresponsável por todos.

Daqui em diante, todos os movimentos serão gradativos e com apurado grau de observação para que os casos de contágio não voltem a crescer. Algo, contudo, se coloca como medida rápida porque indispensável: o papel fundamental de atos prudentes e de respeito às normas estabelecidas para que a proteção no regresso das jornadas, de trabalho e de vida, seja assegurada.


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