Editorial: Medidas mais duras

O anúncio de coletiva de imprensa conjunta, reunindo autoridades estaduais e do município de Fortaleza, numa sexta-feira de feriado trazia, de imediato, a certeza da urgência do comunicado e da gravidade do tema. Este, evidentemente, não poderia ser outro senão o combate à pandemia que assola o mundo. Aventou-se mesmo que viria o decreto de um "lockdown", a modalidade mais rigorosa do isolamento social, onde a circulação das pessoas e veículos é vetada, salvo no desempenho de funções específicas ou para realizar atividades essenciais. No Nordeste, o modelo foi adotado no Maranhão.

Por ora, esta não foi a determinação do Governo do Estado, nem da Prefeitura de Fortaleza. Mas, na ocasião, reforçou-se o que o governador Camilo Santana já havia dito em suas redes sociais. Se tivesse que tomar medidas mais duras para enfrentar a pandemia, estas seriam tomadas. A decisão se sustentaria em argumentos científicos, tanto no que diz respeito à observação global do comportamento do coronavírus como numa análise do quadro cearense. Mas o que se viu não foi apenas um apelo, para que a população retome patamares mais previdentes do distanciamento social.

Diante do afrouxamento, por meio da adoção de hábitos imprudentes de circulação, da escalada do número de doentes e, pior, de mortos, o Ceará precisa de uma mudança de postura. Não será surpresa se, nos próximos dias - ou semanas - a orientação das autoridades estaduais e municipais mudar. Se o fizer, será no sentido de tornar ainda mais rigorosas as medidas. O que já foi dito e repetido pelo governador, da disposição de combater a pandemia, sem medir esforços, torna mesmo o decreto de um "lockdown" factível.

A presença da Prefeitura no anúncio se deu para destacar o caso particularmente difícil da Capital. A maior cidade do Estado e a mais populosa é, também, aquela sob a qual a pandemia se abateu com maior intensidade. Concentram a maioria dos casos confirmados da Covid-19, de mortos pela doença. O gigantismo da metrópole traduz a dimensão do desafio de conter o contágio entre os milhões que nela habitam. Não há, asseguram as autoridades, possibilidades de se afrouxar as medidas em Fortaleza. Por ora, a Capital deve seguir seus dias sob portas fechadas.

O alinhamento de discursos do Estado e da Prefeitura não deixa dúvidas da condução rigorosa e incisiva destes dois entes durante a pandemia. Medidas de tal monta agitam a cidade e têm ressonância nos corredores do poder. Mas, ao que parece, não se trata de decisões eleitoreiras. Portar notícias amargas, como tem sido feito desde meados de março, passa ao largo do que é, de forma rudimentar, mas infelizmente corriqueiro, uma forma de acumular capital político desejável. Faz se, contudo, política. Ameaçada de ser subvertida, ganhando entendimentos negativos prontos a invertê-la, a palavra nomeia aqui aquilo que de fato é, em seu sentido mais essencial: a correta condução do que interessa ao bem comum.

A notícia que se dá agora, por mais amarga que seja, vem como forma de evitar outras, mais graves, já antevisto no horizonte do futuro próximo. Disciplina e senso de responsabilidade são fundamentais para evitar este infausto cenário.