Editorial: Lições de Paz

O Natal é uma festa da cristandade. É a maior de todas: celebra-se o nascimento de Jesus Cristo, centro da fé de mais de 2 bilhões de pessoas em torno do planeta e personalidade histórica inquestionável. Cidadãos e cidadãs de etnias, regiões e culturas distintas convergem para bases filosóficas espraiadas globalmente, sob a lógica de que a humanidade pode e deve conviver harmônica e responsavelmente, orientada por ensinamentos que destacam, sobretudo, a fraternidade. É um evento de cristãos, mas que alcança outros credos de forma intensa e proativa.

Ainda assim, há quem questione fundamentos firmados pelo próprio Jesus Cristo, como os da solidariedade, do compartilhamento, do respeito às diferenças, do amor ao próximo, da preservação ambiental, da paz e do bem. Há, portanto, os que os rejeitam. Quem se propõe a analisar situações em que há oposição aos valores cristãos costuma crivar uma explicação: “são as dinâmicas das épocas”.

Pode ser. Afinal, nos tempos atuais – em confronto com conclusões centenárias –, há quem acredite que a terra é plana, que mulheres são seres inferiores, que a escravidão não foi cruel como se relata historicamente, que se deve esquecer o que o regime nazista fez contra a vida de mais de 6 milhões de pessoas e, de resto, contra a dignidade humana. Aceitam-se divergências, embora essas nem sempre sejam saudáveis ou inteligentes. A lista, enfim, é tão longa quanto assustadora.

Por isso, vale citar o Papa Francisco, líder católico que, tanto como argentino quanto como cidadão do mundo, tem posto à frente da cena a vivência latino-americana: “os direitos humanos são violados não só pelo terrorismo, a repressão, os assassinatos, mas também pela existência de extrema pobreza e estruturas econômicas injustas, que originam as grandes desigualdades”.

O Papa estabelece, com posicionamentos assim, uma lembrança de responsabilidades que chega tanto às pessoas quanto aos governos que as representam. É uma postura decidida e decisiva, uma vez que encoraja reflexões e mudanças e pode, eventualmente, estimular evoluções.

Francisco, com a autoridade que lhe é investida, reconhece também a necessidade de engajamento social e de debate participativo e legitimado pelas instituições. “Envolver-se na política é uma obrigação para o cristão. Nós cristãos não podemos nos fazer de Pilatos e lavar as mãos, não podemos!”, destacou.

Mas é cabível também mencionar não-cristãos que, pela obra que constroem, se alinham aos alicerces da harmonia desejada. É o caso do Dalai-Lama, chefe de estado e líder espiritual tibetano. Disse ele: “Melhorar o mundo é melhorar os seres humanos. A compaixão é a compreensão da igualdade de todos os seres, é o que nos dá força interior. Se só pensarmos em nós mesmos, nossa mente fica restrita. Podemos nos tornar mais felizes e, da mesma forma, comunidades, países, um mundo melhor. A Medicina já constatou que quem é mais feliz tem menos problemas de saúde. Quando cultivamos a compaixão temos mais saúde”.

Que fiquem a todos, então, as lições de paz - essas são cristãs, necessárias e indispensáveis, cada vez mais. Sem fronteiras e sem preconceitos.