Editorial: Forças incompatíveis

As paixões não são estranhas à política. A despeito do interesse ou da vontade de participar do cidadão, é por meio delas que se gestam ideias e que se tomam decisões que afetarão o futuro. Dos poderes Executivo e Legislativo, partem definições capazes de transformar o cotidiano de todos, bem como de desenhar seus dias futuros. Ignorar isso é tomar uma decisão de ignorar algo que, necesseriamente, o afetará cedo ou tarde.

Na conexão direta da política com a vida, do indívuo e da sociedade, se encontra o motivo de que muitos vivenciam de forma passional os processos políticos. Há, contudo, de se ressaltar que a administração pública e o trabalho legislativo devem estar em sintonia com os anseios da população, mas que é fundamental que se paute pela razão, para que seja capaz de ir além, de identificar demandas e necessidades da sociedade. As decisões tomadas nem sempre são fáceis e não seria razoável esperar que as pessoas nos cargos decisivos dos três poderes republicanos deixassem se levar apenas pelos humores coletivos.

Existe, decerto, limite para essa forma exaltada de viver a política. Não é possível conciliá-la com violência. Atos violentos e abusivos - de toda e qualquer ordem - são a antítese do que, em princípio, é a política. Essa é uma forma de equacionar conflitos, encontrar o ponto médio entre diferentes interesses legítimos e agir em interesse do bem comum. Por seu turno, a violência é eminentemente conflito, levado a suas consequências mais extremas.

Idealmente, a violência emergiria nos conflitos como uma situação limite, marcando o esgotamento das possibilidades de as diferenças serem resolvidas politicamente. O enfrentamento de força - que marca, por exemplo, as guerras - deveria estar nas margem, na região mais afastada das ações humanas. Contudo, há uma longa estrada dividindo o ideal do mundo em que se vive.

A violência é não apenas o recurso último, mas por vezes o primeiro ou, pelo menos, parte da estratégia de quem ignora preceitos de civilidades e da própria democracia. O que está em questão não é tão somente o uso da força física. Manifestações violentas englobam tanto as agressões físicas, como ataques psicológicos, econômicos, simbólicos e mesmo sexuais. Há uma preocupação específica como ataques do gênero às mulheres candidatas, com alertas no próprio Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.

Para garantir a ordem e a segurança, as eleições deste ano contarão com um esquema especial envolvendo cerca de 8,4 mil agentes dos órgãos de segurança pública do Estado. Pelo menos 10 municípios cearenses ainda contarão com reforços de tropas federais.

Episódios recentes, envolvendo ataques a candidatos ao pleito de novembro, foram registrados no Interior do Estado - casos, que se ressalte, ainda precisam ser esclarecidos para que se possa cravar suas motivações políticas. Um infeliz histórico, de agressões diversas, é a lição dada para que o vivido sirva de alerta para os riscos futuros.

É fundamental que o embate político não deixe o território da civilidade. Garantir a paz nesse período é um dever dos atores políticos tanto quanto de seus apoiadores e eleitores. É dever do Estado cobrar a postura correta.


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