Editorial: Espaços requalificados

A combinação entre esporte e lazer é uma das respostas recorrentes dadas para se superar o histórico problema da violência urbana, associada à criminalidade. Claro está que não se trata de algum tipo de antídoto, de efeitos radicais e mágicos, para sanar as fissuras no tecido social. É parte da solução, devendo estar integrada a ações voltadas para outras áreas, como educação, saúde, trabalho e habitação.

Diversas propostas partem do mesmo entendimento: que a produção de que um ambiente socialmente mais saudável, com oportunidades de ocupação qualificada e do exercício da socialização, reduz possíveis interações com atividades ilícitas, violentas em si ou patrocinadoras de atos violentos. A lógica é pautada nas evidências de que zonas degradadas e socialmente vulneráveis apresentam uma série de fatores de risco aos indivíduos que ali vivem, tornando-os mais suscetíveis à violência e à criminalidade. Quando identificados e trabalhados a partir de políticas públicas integradas, os pontos podem se converter em fatores de proteção e, com isso, pessoas e territórios passam a ser mais resistentes ao contato com a violência.

Insere-se neste contexto de enfrentamento da violência e de requalificação social os projetos das areninhas, dispostas por todo o Estado. Seis anos depois de ser iniciado, o projeto “Areninhas” instalou sua 50º unidade na Capital. É resultado de parceria entre a Prefeitura Municipal de Fortaleza e o Governo do Estado – que toca o projeto em outros municípios cearenses. 

A intervenção urbanística se dá com o objetivo de requalificar campos de futebol localizados em locais da metrópole com alto índice de vulnerabilidade social. O que se vê na prática é uma apropriação por parte da comunidade vizinha, que adota o equipamento público como espaço para prática não só do esporte, mas ainda de outras atividades físicas, de convívio e de lazer.

As areninhas – mas não apenas elas, também os Cucas e mesmo as praças – vão ao encontro de uma carência antiga da população, de espaço qualificado para a interação social e o lazer. Exemplo disto é o visível incremento na frequência público nos parques públicos localizados na Capital cearense. São territórios que oportunizam o encontro e a interação entre os cidadãos, de diversas faixas etárias, abrindo espaço para a vivência do lúdico. Têm estrutura que falta às vias públicas e mesmo às residências de seus frequentadores.

Para que seus efeitos sejam sentidos, como objetiva, tais equipamentos públicos devem receber atenção contínua; e a população precisa receber garantias de que pode acessá-los da forma planejada. O primeiro ponto se refere à necessária manutenção de areninhas e praças. O investimento inicial é alto – por vezes superando R$ 1 milhão –, mas ele não é suficiente para garantir que os espaços sigam plenamente operacionais. O segundo, à importância de a segurança pública garantir o ir e vir da comunidade, sem que esta seja acossada por criminosos que almejam dividir a sociedade em territórios por eles dominados.

A resposta da combinação lazer, esporte e espaço público qualificado é antiga; sua eficiência não foi contestada. Investimentos na área devem continuar a ser feitos, para que os necessários avanços sociais sejam conquistados.


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