Editorial: Ensaio do retorno

Caso não haja interrupções ou atrasos na implementação das fases subsequentes do Plano de Retomada Responsável das Atividades Econômicas e Comportamentais, o retorno das aulas presenciais nas instituições de ensino privadas da Capital acontecerá na segunda metade do mês de julho. Anteriormente marcadas para 1 de agosto, a data foi antecipada em 12 dias pela Prefeitura Municipal. O anúncio foi feito, nesta semana, pelo chefe do Executivo local, em transmissão ao vivo pelas redes sociais.

Dentre os setores que tiveram suas atividades suspensas, na vigência da quarentena e, em seguida, do lockdown, o da educação é um dos que mais inspiram atenção e mobiliza discussões na sociedade. É compreensível: há questões e interesses de pais, estudantes e instituições públicas e privadas, num emaranhado de indagações sobre economia, pedagogia e, claro, saúde.

Há alguns faróis a oferecer rumos para a situação. O Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) publicou um guia com novos procedimentos sanitários e pedagógicos. Foram elencados três pontos de referência, fundamentais, a ser observados para que se possa operar o retorno das aulas presenciais: infraestrutura e recursos, continuidade da aprendizagem e capacidade de análise da crise sanitária.

Pensando na situação da Capital, o planejamento segue em duas frentes. Formado por especialistas, um grupo de trabalho vinculado à Secretaria Municipal de Educação de Fortaleza (SME) trabalha na elaboração do plano de retorno das aulas. Já o Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Ceará (Sinepe), com equipe própria engajada na tarefa, estabelece diretrizes com orientações relacionadas ao distanciamento social, higienização dos espaços, realocação de funcionários que figuram em grupos de risco, além da reposição de aulas.

No Congresso Nacional também se encontram projetos atentos ao retorno das escolas a seu funcionamento regular. O Projeto de Lei 3377/20, por exemplo, almeja tornar obrigatória a testagem periódica de professores e profissionais de escolas públicas e privadas para detecção da Covid-19. A medida seria condicionante à realização de aulas presenciais. Os testes deveriam, segundo o projeto, ser realizados a cada 14 dias.

Em análise na Câmara dos Deputados, o PL ainda prevê medição da temperatura corporal de profissionais, estudantes e de público circulante antes de entrarem na área de acesso às salas de aula.

Há uma questão, não menos urgente, que diz respeito à dificuldade de pais e responsáveis manterem crianças e adolescentes em casa, em segurança, quando os adultos são chamados de volta ao trabalho presencial. Serviços de babá, como se sabe, são para uma parcela pequena da população que, a despeito das sacudidas da crise, pode pagar por eles. Nem todos contam com parentes ou amigos dispostos ou disponíveis para dar a atenção devida aos pequenos, durante a jornada de trabalho dos pais.

Há tempo para conceber planos, que precisam ser apresentados com antecedência, de forma a serem discutidos e aperfeiçoados. A preparação rigorosa e responsável do retorno às aulas é fundamental e do interesse de todos. Trata do que há de mais importante numa sociedade: a garantia de seu futuro.