Editorial: Emprego e maturidade

Nem sempre enunciado explicitamente, o tema da crise econômica brasileira, que eclodiu em 2015, ocupou lugar central no embate de projetos políticos que disputaram o Executivo nas eleições passadas. As soluções propostas divergiam; a promessa era a mesma: frear o declínio do País e, num lance mais complexo e ousado, retomar o crescimento do início da década. O ano de 2020 avança e incógnitas permanecem irresolutas. O desafio não foi superado e, em que pese os tímidos avanços, há muito o que precisa ser feito, equações a serem resolvidas, não apenas na economia, mas nos domínios do social.

Exigem atenção os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério da Economia, acerca da situação dos trabalhadores brasileiros no período. No quinquênio 2015-2019, 1,7 milhões de empregos formais foram perdidos. Do começo da crise ao fim de 2017, o Brasil viu desaparecerem 2,9 milhões de postos de trabalho com carteira assinada; no biênio 2018-2019, recuperou 1,2 milhões. 

Ainda assim, o último trimestre do ano passado fechou com uma taxa de desemprego de 11%, de acordo com números do mercado de trabalho levantados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A informalidade, nestes panoramas, cresceu: abrange 80% dos 24,2 milhões que trabalham por conta própria.

Os dados do Caged, assim como os do IBGE, permitem que se descortine, diante dos olhos de gestores públicos e dos demais setores da sociedade, uma realidade problemática, que requer ações capazes de corrigir tendências e melhorar os números, para além de qualquer referência do passado. É preciso que o Brasil cresça economicamente e que o mercado de trabalho ganhe força e estabilidade capaz de garantir dias menos instáveis aos cidadãos do País – para além dos patamares que um dia já se chegou. 

Contudo, há problemas que podem passar despercebidos numa mirada panorâmica. É o caso dos desequilíbrios entre faixas etárias em relação à criação de postos de trabalho com carteira assinada. No Ceará, no ano passado, o saldo foi positivo apenas para os mais jovens – os três intervalos de que dividem a faixa de idade que vai dos 15 aos 29 anos. Segundo dados do Caged, foram abertas 16,5 mil vagas de emprego formal para jovens com até 19 anos; 11,4 mil empregos celetistas foram criados para pessoas de 20 a 25 anos; e 1,2, para profissionais de 25 a 29 anos. Nas demais faixas etárias, os saldos foram negativos.

Não há fórmula fácil, nem se pode esperar algum tipo de simetria perfeita, como se o mercado se ordenasse por algum tipo de cota por idade. Por um lado, há o indicativo positivo da abertura de mercado para jovens, em especial, para aqueles que apenas conquistam seu primeiro emprego – fundamental para qualquer carreira. Por outro, há de se atentar para as dificuldades de uma população que envelhece, que pelas novas regras da Previdência deve trabalhar por mais tempo, e que encontra dificuldades de reinserção.

Corrigir o problema, evitando suas previsíveis consequências, requer esforço em diversas frentes, a ser capitaneado pela administração pública, não apenas na esfera federal, mas ainda, no âmbito do Estado e dos municípios.