Editorial: Contra a Aids

Em pouco mais de três décadas, os avanços da ciência foram suficientes para transformar o significado da Aids, a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, doença crônica causada pelo vírus HIV. Quando foram registrados os primeiros casos, no começo dos anos 1980, a doença era uma sentença de morte, inescapável, variando apenas o tempo de vida que ainda restaria a cada enfermo.

Diagnósticos precoces, combinados a tratamentos adequados e atenção médica continuada, são capazes de proporcionar qualidade de pessoas que descobriram a infecção pelo HIV. Esta é uma das frentes do combate à doença, protagonizada, no Brasil, pelo Sistema Único de Saúde e pela necessidade de que o poder público garanta às pessoas que vivem com a Aids o acesso a especialistas e às substâncias necessárias ao tratamento da enfermidade.

A outra frente desta guerra à Aids é a dos trabalhos de prevenção. O poder público, também neste caso, está à frente, e deve se apropriar permanentemente do papel de protagonista. Questão de saúde pública, a infecção pelo HIV demanda medidas de largo alcance e ações multissetoriais. Campanhas educacionais e de conscientização, no sentido de se evitar comportamentos de risco, em especial, das práticas sexuais, são indispensáveis, de forma a expandir o conhecimento e difundir hábitos saudáveis, e instruir as novas gerações.

Prevenção é tarefa que exige atualização permanente, revisão de métodos e conhecimento preciso das oscilações de uma série de variáveis sociais e comportamentais da população. Na última década, registrou-se momentos de maior atenção aos riscos de infecção pelo HIV e outros em que se descuidou mais da vigilância ao contato com vírus. Como melhorar os indicativos é indagação que precisa ser feita por cada uma das instâncias públicas que atuam no cuidado à saúde dos indivíduos.

Levantamento do Ministério da Saúde, cobrindo o intervalo de uma década, entre 2008 e 2018, mostrou que a taxa cearense de detecção da Aids teve aumento de 9,8% no período. Os dados foram publicados no Boletim Epidemiológico HIV/Aids, do Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis, da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde. O levantamento é anual.

No Ceará, passou-se de uma média de 13,2 casos a cada grupo de 100 mil pessoas para, em dez anos, a proporção de 14,5 ocorrências por 100 mil habitantes. Em igual período, o que se observou no Brasil foi um recuo da detecção de casos de Aids. A retração foi de 17,6%. A tendência cearense motiva preocupação, contudo, há de destacar que, mesmo com o avanço, o Estado se manteve abaixo da média nacional (17,8 registros por cada grupo de 100 mil habitantes). 

Foi reafirmado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) – por ocasião do Dia Mundial contra a Aids, ocorrido em 1 de dezembro – que é fundamental, para o aumento da qualidade vida daqueles que foram infectados com o HIV e ao combate à expansão da doença, o envolvimento da sociedade civil, para além do Estado. O compromisso com seus pares, imperativo ético, é capaz de ampliar o conhecimento sobre a Aids e mitigar o nocivo preconceito que ainda cerca a doença.


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