Editorial: Confiança necessária

Para que as forças de Segurança Pública desempenhem de forma correta sua missão – a manutenção da ordem e a garantia da integridade do cidadão, de seu patrimônio e instituições – é preciso mais do que contingente, equipamento, serviço de inteligência e administração eficiente. Não tem menos relevância um elemento subjetivo: a confiança. É preciso que se deixe claro – tal elemento não é prescindível. Ao contrário, é o que garante a unidade do setor, e o que confere sua legitimidade.

A segurança precisa, efetivamente, proporcionar ao cidadão a sensação de se estar seguro, dentro de casa e nas vias e logradouros públicos da cidade onde mora. Deve confiar naqueles servidores do Estado imbuídos da missão de zelar pela ordem e por sua integridade e de seus pares. É imprescindível que creia na correção de suas ações, na precisão dos métodos empregados e no rigor com que cumpre as leis. 

Para que se consiga estabelecer esta relação, é preciso uma conduta exemplar, livre de excessos e de arbitrariedades. É imperativo que se mostre, de forma transparente e livre ambiguidades, de que lado se está e qual o compromisso que se tem com as instituições democráticas do País. O cidadão espera, merece e cobra uma conduta coerente e reta, que não flexibilize a observância da ordem e das leis para atender aos interesses sectários seja de quem for. 

Confiança é algo que se constrói e se conquista. Com ela, vêm o apoio, a colaboração e a parceria do cidadão. Os episódios de insubmissão protagonizados por parte dos policiais militares do Ceará vão na contramão desta conquista. Ainda que não represente a totalidade da tropa, essa parcela atua em prejuízo da corporação, na forma como é avaliada por todos os setores da sociedade cearense. O abalo nessa relação de confiança, importante salientar, não interessa a mais ninguém além daqueles que se beneficiam da desordem, do desrespeito às leis. 

A resposta do Governo do Estado do Ceará foi firme e sóbria. Convocou-se, num primeiro momento, forças auxiliares do próprio Estado e dos municípios para garantir a segurança nas cidades. Não houve relutância de, mais uma vez, se pedir auxílio federal, quando se avaliou imprescindível. Primeiro, aconteceu o envio de homens da Força Nacional para o Ceará. Na sequência, o presidente Jair Bolsonaro autorizou a atuação das Forças Armadas para a Garantia da Lei e da Ordem (GLO) no Estado. 

No período de uma semana, inicialmente, o Exército Brasileiro atuará no patrulhamento das cidades, auxiliando as forças de segurança estaduais em operação. Se confia a outra Instituição parte das tarefas que caberiam aos policiais militares. Aqueles que abdicariam de sua missão e abandonaram seus postos, contrariando o que dita a Constituição Federal, se colocam como prescindíveis ao papel que se comprometeram a desempenhar pela manutenção da ordem.

É urgente a solução do impasse, sendo dispensáveis aquelas vozes que desejam ampliar as tensões. O restabelecimento da relação de confiança passa, necessariamente, pela contenção dos excessos, a observância das leis, o respeito às autoridades e o zelo pela missão para com o cidadão, reconhecida, em juramento, por cada homem que compõe as forças de segurança locais.