Editorial: Caminhos abertos

Centenas de metros ou mesmo alguns quilômetros de quase total imobilidade. A imagem dos engarrafamentos, retardados ainda mais nos dias chuvosos, é suficiente para acender o alerta para um dos principais problemas das grandes cidades. Vivenciá-los, então, não deixa dúvida quanto à necessidade de buscar incessantemente novas soluções para garantir a mobilidade urbana.

Mudanças nas operações de ônibus, ampliação do metrô e VLT são alguns dos meios repensados e reajustados de tempos em tempos; entraram nesta contabilidade, para além do planejamento da administração pública, novas formas de se deslocar, caso de aplicativos de transporte privado urbano. Em Fortaleza, o incentivo ao uso da bicicleta fez, em poucos anos, o uso deste modal transformar-se a olhos vistos.

A construção de ciclovias e, principalmente, de ciclofaixas chegou a ser questionada. Foi criticada por quem fazia uma contabilidade simples, segundo a qual haveria, por conta disso, menos espaço para o tráfego de veículos motorizados. Projetos do gênero exigem intervenções, que vão da remodelação de canteiros – por vezes, com a retirada de árvores – até a eliminação de espaços anteriormente usados como estacionamento nas vias públicas. 

A Capital hoje é cruzada por uma estrutura viária destinada ao tráfego de ciclistas. Há muito, o meio é usado nas cidades, muitas vezes como alternativa mais econômica ao transporte público, atendendo, assim, pessoas de renda mais baixa. Atualmente, as bicicletas têm um perfil de usuários mais plural, conquistado pelo incremento na segurança para se transitar pelas ruas de Fortaleza, dividindo espaço com automóveis, motocicletas, coletivos e transportes de cargas.

Relacionado a este modal, destaca-se ainda o projeto de bicicletas compartilhadas – Bicicletar. O objetivo, segundo descrição oficial, é “oferecer à cidade de Fortaleza uma opção de transporte sustentável e não poluente”. Atualmente, a Capital conta com 112 estações, que disponibilizam bicicletas para uma rede de clientes cadastrados, conectadas a uma central de operações via wireless e alimentadas por energia solar. 

A Prefeitura de Fortaleza projeta a chegar a 210 até o fim do primeiro semestre. O plano já havia sido prometido para o ano passado, com uma licitação sendo lançada em março de 2019. A despeito do atraso, o projeto cearense tem expandido o sistema de compartilhamento de bicicletas, chegando a novas regiões, incluindo a periferia. É o terceiro maior sistema do gênero no País, quando considerado o número de estações (fica atrás das duas maiores cidades brasileiras, Rio de Janeiro e São Paulo), e é o primeiro levando em conta a proporção de número de estações/habitantes.

A importância da ampliação desta rede vai além de seu impacto para a mobilidade na metrópole. Tem, ainda, valor simbólico, no sentido da promoção de meios alternativos de se deslocar, que promovam práticas ambientalmente corretas. Para tal, é fundamental que sejam feitos outros avanços – sobretudo, na estrutura da cidade, apropriada para receber os ciclistas; e na postura de pedestres, condutores e dos próprios ciclistas, no sentido de promoverem uma convivência pacífica, saudável e mais segura para todos nas ruas.