Editorial: Bonito para chover

Estes dias que iniciam 2020, nublados e com temperatura sensivelmente mais amena, renovam a sempre presente esperança de uma boa quadra invernosa para o Ceará. Em suma, empregam cores mais vivas à esperança de situações melhores. Após uma penosa e sacrificante temporada de escassez de chuvas, o tempo que agora se forma oferece perspectivas e ânimos não apenas para quem vive da agricultura ou da pecuária, mas para toda a teia da economia regional.

São, como se diz popularmente no Ceará, dias bonitos para chover.

Indústria, comércio e serviços também só operam de forma adequada se houver, em suas bases, recursos hídricos suficientes. O desempenho desses setores se relaciona diretamente com a necessária e indispensável arrecadação tributária, que assegura o funcionamento de setores básicos para o cidadão - a exemplo dos da Saúde, Educação, Habitação, Infraestrutura, Transportes e Segurança. E, por fim, que pode assegurar a solidez e a estabilidade dos empregos dos quais as famílias dependem.

Assim, conectam-se os muitos e diversificados elos que formam a cadeia de agentes privados e públicos que interagem com a vida social. Há, inequivocamente, uma rede de atividades que se vincula, em princípio, à natureza.

Os serviços de monitoramento de tempo e clima anunciam para hoje e o fim de semana chuvas com uma média diária até 15 milímetros em diferentes regiões do Estado - inclusive Fortaleza - e, especialmente, para Cascavel (previsão de 8mm), Crateús (10mm), Iguatu (8mm), Palmácia (10mm), Quixelô (10mm) e Tauá (8mm). Esses municípios destacados foram incluídos recentemente entre os que têm, no Ceará, estado de emergência.

Além desses, enfrentam problemas gravemente específicos Aracati, Assaré, Caucaia, Cedro, Crato e Tabuleiro do Norte, (todas com previsão de 8mm por dia neste fim de semana), Madalena, Tamboril e Ocara (ambas com previsão de 10mm) e Choró (25mm), cidades que já estavam com estado de emergência decretado e que, em razão da seca, o tiveram prorrogado até junho deste ano.

Ainda deve demorar para que a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), órgão do Governo do Estado com reconhecimento técnico nacional e internacional, emita prognóstico mais nítido sobre as chuvas do ano. Até lá, há de se depender dos "profetas da chuva" - gente que, com uma sabedoria popular ancestral e observando os sinais de animais e plantas, é capaz de formar razoáveis estimativas sobre os humores do clima - e, tanto quanto, dos sentimentos de cada um de que é possível melhorar o quadro.

Mas, fundamentalmente, devem ser buscadas de modo incessante soluções para demandas seculares. Enfim, não é o caso de esperar o que a natureza possa dar, mas de promover avanços tecnológicos em campos como o da armazenagem e distribuição hídrica e os da agricultura e da pecuária para que se fique menos vulnerável às instabilidades. E, nesse processo, ter a capacidade de articular com governos e suas instituições políticas públicas que estejam em favor da sociedade em sua expressão mais abrangente. Só assim poderá haver resposta a tantas, tão antigas e tão complexas dificuldades.