Editorial: Alternativa marinha

Tudo caminha, e agora a passos mais acelerados, para que o Ceará construa, na Praia do Futuro, em Fortaleza, sua primeira usina dessalinizadora da água do mar. Diante das poucas fontes de água doce, que cada vez mais escasseiam nas regiões mais pobres do planeta, dificultando a vida de suas populações, a tecnologia descobriu a alternativa que hoje já é utilizada por vários países para o abastecimento humano e animal e, também, para as atividades econômicas. Israel, que primeiro transformou em potável a água marinha, espalhou a boa nova pelo mundo. Toda a produção de frutas de parte da Espanha é irrigada com água marinha tratada.

Na Califórnia, um dos mais importantes polos agrícolas dos EUA, também se utiliza da água do Pacífico que banha sua costa. Não há mais mistério em torno dessa tecnologia. O que desafia a ciência, agora, é o que fazer com os rejeitos salobros, que, por ora, têm sido devolvidos aos oceanos, causando, do ponto de vista ambiental, um prejuízo à fauna marinha já denunciado pelas organizações que defendem a preservação da natureza em seus diferentes aspectos.

Neste momento, há uma expectativa quanto ao processo licitatório promovido pela Cagece para escolher a empresa que implantará a usina dessalinizadora da Praia do Futuro. A tecnologia a ser aplicada é a da osmose reversa, que utiliza membranas para separar a água do sal. Ela custa caro, e esse custo é ainda mais ampliado pelo uso intensivo de energia elétrica. Por esta razão, há projetos - ainda não implantados - que sugerem o uso de energia solar ou eólica para movimentar as máquinas da usina. Isto não será difícil, pois o Brasil tem um Sistema Integrado Nacional (SIN), que permite o uso de qualquer fonte energética - hidráulica, solar, eólica ou de biomassa - independentemente do local do parque gerador. Assim, um dos parques eólicos do Rio Grande do Sul ou solar da Bahia pode fornecer a energia a ser consumida pela usina dessalinizadora da Praia do Futuro. Trata-se, pois, de um problema já superado.

O que já provoca o debate público é o preço da água dessalinizada a ser cobrado pela Cagece do seu consumidor final, doméstico, industrial ou agropecuário. No mundo, o metro cúbico da água dessalinizada gira em torno de US$ 1, ou R$ 5,55 ao câmbio de hoje. É muto cara, levando-se em conta os cerca de R$ 1,50 cobrados hoje dos consumidores domésticos. É por esta razão que empresários cearenses da fruticultura irrigada, com fazendas de produção nos municípios do Leste do Estado, estão acompanhando o trâmite da licitação da Cagece para a sua primeira usina de dessalinização. Eles querem conhecer, principalmente, os detalhes da proposta financeira da empresa que vier a vencer o certame.

Como eles precisam de água para irrigar suas áreas produtivas, pensam em investir num projeto piloto de dessalinização. Se os resultados forem compensadores, talvez dispensem o Estado e mergulhem, eles mesmos, com o apoio de fundos de investimento, nesse risco calculado. Tudo, porém, é embrionário e dependerá do êxito comercial da usina da Praia do Futuro. Nos últimos 20 anos, o Ceará tem sido pioneiro em vários setores da economia. Pode ser que, agora, esteja sendo aberta uma nova alternativa de pioneirismo.


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