Editorial: A seca a despeito da chuva

Como acontece todos os anos, o pedido de uma temporada de chuvas generosas, capaz de trazer a bonança, está entre os desejos dos cearenses para 2020. O fim do ano e a tradição de se fazer balanços e, a partir deles, projetar o que se espera do próximo ciclo passam necessariamente pela problemática relação entre o homem, a terra e o clima. Não poderia ser diferente, em um Estado historicamente assolado por secas e que, em 2019, conseguiu algum alívio depois de sete longos anos de escassez pluviométrica.

Meteorologistas da Clima Tempo adiantaram que a previsão é que 2020 seja um ano com mais precipitações do que 2019. Um bom índice já é esperado para o último mês da pré-estação – janeiro. No primeiro mês do ano, a empresa promete um prognóstico para o período subsequente. É quando a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) apresentará seu prognóstico para os quatro meses da estação chuvosa (fevereiro a maio).

A ciência do povo é ainda mais otimista em suas previsões para o próximo semestre. É o que dizem os profetas da chuva – tradição de saberes ligados à terra. Os “sinais da natureza” observados pela maioria deles são auspiciosos, antecipando um bom volume de águas para atender aos anseios e às necessidades do homem do campo.
A geografia cearense está inscrita em uma área em que a seca é incontornável. Em si, não é um problema que se possa resolver, com alguma solução fantástica ou miraculosa, no sentido de deixar de existir. Mesmo que a sequência seja, ainda, impossível de se prever com exatidão, a alternância de quadras chuvosas minguadas e férteis é regra para esta parte do País.

Ciente disso, fica claro que as soluções possíveis são aquelas que se dedicam ao convívio com a estiagem, com a melhor forma de administrar e manejar os recursos hídricos do Ceará, minimizando os prejuízos da carência de precipitações. Pode-se, então, recorrer ao que for possível, desde a intervenção divina até a última descoberta da ciência. De preferência, que se recorra a tantas frentes quantas forem possíveis, desde que não contraditórias entre si, quando houver risco de uma anular a outra. 
Contudo, não se deve esquecer da importância capital da política para o enfrentamento das consequências da estiagem. Não faltam exemplos de regiões mundo afora, ainda mais secas, que encontram saídas. Todos eles passam por investimentos altos – calculados em vista do retorno que são capazes de promover –, por administrações eficientes e decisões políticas que tenham como seu objetivo principal o bem-estar de pessoas e instituições.

O combate à seca precisa ser assumido como responsabilidade de prefeituras, do Estado e da União. As ações paliativas – como a disponibilização de caminhões-pipa, para que se acesse localidades mais remotas no interior – não devem adotar ritmos irregulares, dada a natureza crônica do infortúnio. Mas, sobretudo, é necessário que se avance no que toca ao fortalecimento das estruturas destinadas a manter a segurança hídrica do Estado. Grandes obras de canalização e transposição de águas, estaduais e federais, devem ser priorizadas e executadas, para o bem maior, o quanto antes.