Editorial: A empatia e a razão

Restam muitas dúvidas quanto ao período excepcional que o mundo vive. As maiores delas estão, certamente, relacionadas com o tempo. Há projeções e estimativas, mas faltam certezas a respeito de quanto perdurará a pandemia, o alto risco de contágio da Covid-19, a sobrecarga dos sistemas de saúde, a necessidade de isolamento social e os impedimentos de circulação e de uma parcela das atividades econômicas consideradas, por ora, não essenciais.

A crise provocada pela pandemia do novo coronavírus não tem um tempo uniforme. Mesmo num mundo globalizado, as distâncias geográficas funcionam como barreiras e retardam o contágio de doenças infecciosas. Por conta disso, territórios distintos atravessam fases variadas do combate à doença. No Oriente, onde os primeiros casos foram registrados, no fim do ano passado, China, Coreia do Sul e Singapura são exemplos de países que contiveram a proliferação da doença. Alguns deles já conseguem mesmo exportar ajuda a nações mais afetadas, em outras partes do mundo.

No Brasil, dada a extensão territorial do País, a irregularidade do avanço da doença se repete. A Covid-19 tem se espalhado pelos estados, mas ao ritmo com que se propaga se mostrou distinto, variando de unidade para unidade da federação. O crescimento do número de infectados é exponencial, mas não segue uma regra matemática: as curvas de transmissão seguem ritmos distintos. Há muitas variáveis para explicar tais disparidades, desde as medidas adotadas pelo poder público à resposta da população aos apelos de se fazer o isolamento social, passando por questões econômicas, caso do fluxo de pessoas e cargas pelo Estado.

Diante da incerteza, é mister adotar posturas previdentes. Isso significa tomar precauções para dias vindouros, para que se possa superar os desafios imprevistos da maneira mais eficiente possível. Importante salientar: nestes tempos excepcionais, as ações devem sempre antever o bem coletivo. O autocuidado não deve se dar numa perspectiva egoísta; e as medidas adotadas devem levar em conta o impacto sobre outras pessoas.

Em meio à pandemia e ao período de isolamento social determinado pelo Governo do Estado, há grupos extremamente vulneráveis, seja do ponto de vista clínico, seja na perspectiva econômica. Tanto o poder público como a sociedade civil têm buscado formas de auxiliar os mais necessitados durante este momento.

A empatia é fundamental e deve estar sempre alinhada com a razão. É imperativo se repensar o consumo de determinados itens, essenciais para todos e que precisam ser adquiridos ou usados com responsabilidade. Há o caso evidente de produtos de saúde e higiene, como o das máscaras descartáveis e do álcool em gel, cada vez mais difíceis de se encontrar; e dos medicamentos que precisaram ter sua compra controlada, para garantir que não faltem àqueles que deles necessitam. Mas há, também, casos como o da água, da energia elétrica, dos serviços de internet. Se sobrecarregados, implicarão em uma carência que atingirá a todos.

A saída, que se repita, passa pelo uso da razão e pela empatia, dois dos melhores instrumentos do gênero humano.