Cem dias de resiliência

Exatos cem dias decorreram desde que foram registrados os casos da Síndrome Respiratória Aguda Grave 2 (SARS-CoV-2), provocada pelo novo coronavírus, no Ceará. Havia poucos dias, a comunidade tinha assistido à Organização Mundial da Saúde (OMS) definir como pandemia o caso da doença contagiosa, que havia se irradiado a partir da China, meses antes. O cearense tinha diante de si um futuro cheio de interrogações, e as projeções possíveis se baseavam nas notícias nada animadoras que chegaram do outro lado do mundo.

A resposta dada pelo poder público foi ágil. A propagação da doença não deixava dúvidas de que precisava ser enérgica e imediata a resposta do Governo do Estado e da Prefeitura de Fortaleza, cidade por onde a Covid-19 chegou ao Ceará. Não tardou para que se decretasse o isolamento social e se restringisse ao mínimo o funcionamento de indústrias, comércios e serviços. Apenas aquelas categorias consideradas essenciais puderam continuar operando, ainda assim, seguindo novos e rigorosos protocolos sanitários.

Como se viu no restante do mundo, os sistemas de saúde não estavam prontos para o enfrentamento de uma doença sobre a qual ainda pouco se sabia; contra a qual não havia drogas testadas e de eficiência reconhecida; e que exigia disponibilidade de ventiladores mecânicos e de suporte de UTI, capazes de atender a alta demanda dos casos mais graves.

Certamente, na história do enfrentamento à Covid-19 no Ceará, haverá um capítulo dedicado à corrida dramática contra o tempo para reforçar a estrutura das unidades de saúde. Para os parâmetros da história, o intervalo de tempo de 100 dias parecerá mínimo, mas a contagem dos dias e das horas encontrou uma dinâmica própria durante a pandemia. Não há dúvidas que o momento que se tem vivido ficará inscrito na memória daqueles que hoje se confrontam com a incerteza. Figurará também na história da cidade e será recapitulado, futuramente, como um de seus períodos mais infortunados.

A crônica destes cem primeiros dias de enfrentamento à Covid-19 pelos cearenses, necessariamente, deverá prestar homenagem àqueles que se arriscam, em diversas frentes, de forma obstinada e altruísta, para minimizar o sofrimento de seus conterrâneos e, principalmente, de salvar a vida daqueles que mais precisam. Deverá, ainda, homenagear cada um daqueles que, neste tempo, perdeu a vida e deixou saudade para familiares e amigos.

Outro capítulo desses cem dias é a do esforço, de pessoas e instituições, para superar os problemas econômicos que têm acompanhado a emergência sanitária. Inadiável, o mais importante era certamente salvar vidas. Contudo, o distanciamento social e suspensão de atividades do setor produtivo cobrou seu preço, no fechamento de empresas e no desemprego.

Junho, nessa crônica, terá como marcos boas notícias: da estabilização do número de novos casos e mortes causadas pela doença; e do início da retomada das atividades econômicas. Promissor, o presente não permite celebrações. É preciso serenidade e que se reafirme os compromissos de empatia e disciplina. A superação da crise assim exige. Não se pode cessar o avanço, e este necessita do compromisso de toda a sociedade.