Bons ventos

Uma onda positiva para a economia cearense tem vindo do nosso mar. O enorme potencial de geração eólica off-shore (instalada no mar), um dos maiores do País, terá, agora, mais um investidor. A empresa chinesa Mingyang firmou contrato com o Governo do Estado para a fabricação desses aerogeradores. O investimento, de até R$ 400 milhões, mas em fase de outras tratativas, representa a visão dos chineses no nosso potencial eólico, ainda mais pela existência de quatro projetos de parques eólicos em avaliação.

Muito além da concorrência, esses projetos representam oportunidade para investidores no mundo interessados na energia limpa. Investimentos que chegam em boa hora, claro, quando os esforços convergem na tentativa de deixar para trás os dias ruins da economia, motivados pela pandemia.

Os números da força da brisa marítima cearense são impressionantes. Conforme o Atlas do Potencial Eólico e Solar do Ceará, o Estado tem potencial de 94,3 gigawatts de geração em terra. No mar, já sobe para 117 GW, com fator de capacidade de 62% - na Europa, esse mesmo fator é de 37%.

Se observado apenas o fotovoltaico (solar), os possíveis 643 gigawatts seriam suficientes para suprir em mais de duas vezes a demanda atual de energia elétrica do Brasil. Sol e mar nunca nos fizeram tão prósperos. Até mesmo o empreendimento chinês tem interesse em expandir para a fabricação de painéis solares e outros componentes. Assim, investimento em duas fontes limpas de uma só vez.

Segundo o secretário de Desenvolvimento Econômico e Trabalho do Estado, Maia Júnior, a expectativa é que a fábrica chinesa esteja implantada até 2023, com geração de 2 mil empregos na fase inicial.

O vento cearense sempre foi referência para a cultura, o esporte e o turismo, mas na última década tem consolidado seu poder para alavancar a economia por meio de energia limpa e sustentável. Se o litoral já foi reconhecido por localização estratégica de caravelas e navios de toda parte do mundo cruzando os mares, agora são os ventos que trazem investidores globais, cada vez mais para este circuito.

A criação dos novos parques eólicos inspiram confiança de investidores que buscam a sustentabilidade em seus negócios. Assim como o mercado financeiro vê preocupação com desmatamento e incêndios na Amazônia e no Pantanal, pois ninguém quer sua empresa associada à degradação do meio ambiente, ter fontes de energia limpa movimentando as suas engrenagens são um atrativo positivo para a propaganda nesses mesmos investidores.

Os parques eólicos off-shore podem trazer outras indústrias em terra que buscam se instalar em lugares associados a fontes sustentáveis. Isso faz do Ceará um oásis dos ventos cada vez mais desejados. Isto deve atrair, também, o olhar dos investidores nacionais e locais, que ampliam a possibilidade de a economia circular internamente.

Contanto que o cearense seja diretamente beneficiado por todo novo investimento, sobretudo os de longo prazo, a chegada do parceiro chinês amplia fôlego para as projeções da economia local, que tanto necessita de bons ventos para sua decolagem.