Atenção à altura

O setor cultural foi um dos primeiros a sentir o efeito econômico da pandemia da Covid-19. Antes mesmo de se instituírem decretos estaduais, determinando medidas de proteção individual e coletiva, eventos foram adiados - e mais tarde cancelados; e programações suspensas. Alertas contra o risco de aglomerações foram suficientes para que, em muitos lugares, se antecipasse o que se tornaria regra, com a obrigação do distanciamento social.

Palcos e assentos foram esvaziados e ficaram assim por quase seis meses. Teatros, casas de shows, galerias e cinemas, para citar os estabelecimentos mais associados à área, tiveram suas atividades presenciais suspensas e só recentemente foram autorizados a voltar suas operações. Em regra, a volta terá, necessariamente, que se dar com a garantia de que capacidade de público dos locais será limitada, para possibilitar o respeito ao distanciamento social, e com adoção de rigorosas medidas higiênicas. A finalidade é minimizar os riscos sanitários para o público e profissionais do setor.

No período em que as atividades presenciais precisaram ser suspensas, as categorias das indústrias criativas procuraram saídas, ainda que precárias, mas que fossem capazes de minimizar os danos que a pandemia provocava no setor cultural. Lives atraíram públicos de milhares, e mesmo de milhões, e concentraram as atenções. Segmentos que trabalham com atividades artesanais, dentre outros, buscaram se engajar nos serviços de delivery. De uma forma geral, as redes sociais foram mais bem trabalhadas por artistas e produtores culturais nesses seis meses atípicos.

A presença digital, antes mesmo da emergência sanitária, era incontornável. Com as limitações impostas pela crise de saúde pública, tornou-se compulsória e urgente. A necessidade fez ver que estas não servem de adereço, mas que devem ser compreendidas como canais a ser profissionalizados. Por meio delas, muitos profissionais conseguiram chegar a novos públicos, reduzir as perdas do período e, em alguns casos mais raros, ir além do que se tinha antes da pandemia.

Contudo, as histórias a ser contadas não são apenas de esforço e superação. A crise também fechou negócios e produziu episódios tristes, como a de muitos músicos que se viram obrigados a vender exatamente os seus instrumentos artísticos. Ficaram, ao mesmo tempo, sem o seu ofício e sem condições de retomá-lo.

Aventou-se um auxílio específico para a categoria, para socorrer artistas e produtores culturais mais afetados, submetidos a condições precárias de subsistência, que entre idas e vindas, terminou por se criar, a partir da promulgação da Lei nº 14.017, de 29 de junho de 2020. Denominada Lei Aldir Blanc, em homenagem a um mestre da música que perdeu a vida no infausto primeiro semestre do ano. No fim da semana passada, foi sancionada a regulamentação da distribuição dos recursos previstos em Lei, no Ceará, com previsão de repasse de R$ 138 milhões de recursos federais.

O dinheiro ainda chega em hora oportuna. Contudo, é imperativo mais agilidade, abrangência e sensibilidade no tratamento dos setores culturais. Historicamente, o setor enfrenta condições difíceis, a despeito de sua relevância para a população e para o País.