A volta do futebol

O lendário técnico italiano Arrigo Sachi, vice-campeão mundial em 1994, é autor de uma espirituosa e arguta definição da importância do futebol para a sociedade: "é a coisa mais importante dentre as menos importantes". Em um contexto complexo, de grave crise sanitária, com consequências sociais e econômicas, não é descabido se falar dos rumos do esporte.

O futebol é relevante. Se Sachi via isso no contexto europeu (mesmo os italianos sendo apaixonados pelo esporte), no Brasil, então, esta constatação é ainda mais expressiva. Afinal, o futebol é muito mais que 22 jogadores e uma bola. É veia cultural, meio de vida, economia e também saúde (física e mental). É um sentido de vida para muita gente, desde milhares de torcedores e profissionais.

Este é um primeiro ponto. A volta do futebol precisa estar sempre na mesa de quem tem poder de decisão. Mas o segundo ponto é justamente o que requer mais atenção: chegou a hora de voltar?

A resposta é complexa e, em primeiro lugar, deve sempre ser pautada na ciência. Os principais clubes do futebol cearense e que estão na primeira divisão do futebol brasileiro, Ceará e Fortaleza, investiram em protocolos rigorosos e estudos para iniciarem os treinamentos, assim como a Federação Cearense de Futebol (FCF), que ofereceu insumos para que as equipes de menor expressão do Campeonato Cearense também cumprissem as regras.

Já se ultrapassou a marca de um mês de treinamentos presenciais, com série de testagens semanais de todos os profissionais e familiares envolvidos. Não foram registradas intercorrências, além do natural registro e afastamento de infectados, ou perda de controle com relação ao coronavírus neste período.

Com base neste contexto, os clubes querem dar o passo seguinte. O principal argumento é que as partidas de futebol não terão mais de 250 pessoas envolvidas no processo, sem presença simultânea, e que rígido controle sanitário será aplicado nos estádios, tal qual vem acontecendo na Europa. Controle este, que segundo o setor, é muito superior ao de outras atividades já liberadas para funcionamento pleno ou parcial.

Outro argumento presente no discurso dos personagens favoráveis ao retorno é que as transmissões esportivas podem favorecer a melhor sensação de bem-estar individual e também um estímulo à quarentena, na medida que as pessoas se concentrarão nos lares durante as realizações dos jogos.

Do lado do poder público e das autoridades de saúde, ainda há cautela, tendo em vista o bem comum. Após tanto tempo de luta contra os avanços da pandemia, nenhum gestor pensa em arrefecer os cuidados e correr o risco do retorno mais intenso da doença entre os cidadãos. A ponderação, todavia, era sobre o atual estágio da pandemia em cidades do Interior do Estado.

Argumentos favoráveis e outros parcialmente contrários. Mas na confluência de opiniões e no melhor bom senso, lastreado na ciência, o momento da retomada foi marcado para o dia 13 de julho, ainda sem torcida. A data ideal para a volta do futebol é aquela pautada por argumentos científicos, econômicos e culturais, acima de qualquer componente político ou ideológico.